Cientistas constroem árvore genealógica com 2,3 mil espécies de borboletas
Há 100 milhões de anos, um grupo de mariposas trocou a noite pelo dia e começou a se alimentar de flores ricas em néctar — que, por sua vez, evoluíram junto às abelhas. Assim surgiram as borboletas, na América do Norte e Central, segundo um novo estudo publicado na revista Nature Ecology & Evolution.
A equipe liderada por Akito Kawahara, pesquisador do Museu de História Natural da Flórida, nos EUA, construiu uma árvore genealógica coletando o DNA de quase 2,3 mil espécies de 90 países que representam todas as famílias de borboletas.
No centro do estudo estavam 11 fósseis de borboletas – eles são raros, porque o corpo delicado destes insetos não costuma resistir ao tempo. A análise não seria possível sem eles, afirmam os pesquisadores em comunicado.
Alguns eventos evolutivos estavam registrados pelos fósseis e foram usados para calibrar partes específicas da árvore genealógica. A equipe usou quatro supercomputadores na Europa e nos Estados Unidos para processar todos estes dados, traçando os hábitos alimentares e movimentos migratórios das espécies de borboletas ao longo do tempo.
De onde vêm as borboletas
Eles descobriram que as borboletas apareceram pela primeira vez em algum lugar no oeste da América do Norte e Central. Na época, esta porção do continente era dividida em dois por uma extensa via marítima. De lá, elas se espalharam para a América do Sul e, depois, para a Ásia, voando por onde é hoje o estreito de Bering.
A partir daí, elas se estabeleceram no sudeste da Ásia, no Oriente Médio e em partes da África oriental. As borboletas teriam vivido nestas regiões por até 45 milhões de anos antes de migrarem para a Europa – um intervalo que os pesquisadores ainda não sabem explicar, mas que deixou marcas na distribuição dos insetos.
“A Europa não tem muitas espécies de borboletas em comparação com outras partes do mundo, e as que existem podem ser encontradas em outros lugares”, afirma Kawahara em comunicado. “Muitas borboletas na Europa também são encontradas na Sibéria e na Ásia, por exemplo.”
Os cientistas se surpreenderam ao descobrir que as borboletas possivelmente ocuparam a Austrália quando esta porção de terra ainda estava ligada à Antártida – onde as borboletas teriam vivido há milhões de anos, quando as temperaturas por lá eram maiores.
A dieta dos insetos
Os autores também estudaram sobre as plantas nas quais as borboletas se apoiaram durante os últimos milhões de anos. Isso porque a evolução de um grupo está diretamente relacionada à evolução do outro. Eles perceberam que todas as famílias de borboletas pareciam depender de um grupo específico de plantas. E, em praticamente todas as famílias, os feijões eram seus hospedeiros ancestrais.
Com o tempo, eles também se tornaram atraentes para abelhas, beija-flores, moscas e mamíferos, e as borboletas diversificaram sua dieta para incluir outras plantas. Mas a relação inicial entre borboletas e plantas de feijão ajudou os insetos a se tornarem um dos maiores grupos de insetos do mundo, explicou Pamela Soltis, coautora do estudo, à CNN.
Segundo os cientistas, entender a evolução das diferentes espécies de borboletas pode dar pistas sobre como proteger as populações destes insetos e seus habitats. Atualmente, eles sofrem diversas ameaças devido às mudanças climáticas.