O Alzheimer ainda é uma das doenças em que há mais perguntas do que respostas. Infelizmente, ainda não existe uma cura, mas os estudos vêm aos poucos fornecendo alguns insights valiosos. Exemplo disso é um artigo, publicado na terça-feira (27) na Cell Stem Cell, que mostra como as células cerebrais associadas ao Alzheimer se alteram e perdem a sua identidade celular.
O estudo, conduzido por cientistas do Salk Institute, nos Estados Unidos, foi feito a partir do cultivo de neurônios que se parecem com células cerebrais de pacientes idosos. Esses neurônios artificiais foram criados a partir de células da própria pele de pessoas com Alzheimer, resultando nas amostras mais fiéis já feitas em laboratório.
O que os pesquisadores descobriram com o experimento foi que essas células do cérebro são caracterizadas por marcadores de estresse e alterações que as tornam menos especializadas. Outro resultado inesperado foi que muitas das mudanças vistas nas células estudadas eram similares ao que já foi observado em células cancerígenas. Assim como o Alzheimer, o câncer também é uma doença associada ao envelhecimento.
Foram coletadas células da pele de 13 pacientes com Alzheimer esporádico e relacionado à idade; de 3 pessoas que apresentavam a forma mais rara e hereditária da doença; e, como controle, de 19 indivíduos idosos que não apresentavam a condição. Assim, os pesquisadores criaram neurônios de cada um dos doadores e analisaram as diferenças moleculares entre elas.
Uma das principais diferenças identificadas foi que nas células de pacientes com Alzheimer faltavam algumas estruturas sinápticas, que são importantes para o envio de sinais entre elas. Também foram observadas mudanças nas vias de sinalização, responsáveis por controlar a função celular, o que indicava que as células estavam estressadas. Por fim, ao analisar quais proteínas estavam sendo produzidas, os cientistas descobriram assinaturas moleculares semelhantes a células imaturas que são encontradas em cérebros em desenvolvimento.
Esses resultados indicam que os neurônios parecem perder a sua identidade, fazendo com que as células se tornem menos especializadas. Um fenômeno similar ocorre com o câncer, apesar de ainda não haver uma resposta clara sobre a relação entre as duas doenças. Ainda serão necessárias mais pesquisas para desenvolver tratamentos, e os autores esperam que as suas descobertas recentes possam guiar estudos futuros.