Cientistas estudam efeito do Ozempic na redução do consumo de álcool

Efeito foi observado por usuários do medicamento; pesquisadores indicam relação entre mecanismo do Ozempic e dopamina
Cientistas estudam efeito do Ozempic na redução do consumo de álcool
Imagem: Giovanna Gomes/ Unsplash/ Reprodução

No último ano, as prescrições e buscas pelo medicamento Ozempic aumentaram consideravelmente. Antes usado apenas para tratamento de diabetes, o remédio ganhou fama por sua capacidade de auxiliar a perda de peso rápida. Agora, pesquisadores estudam mais um efeito em potencial.

Médicos e pacientes começaram a notar um efeito colateral marcante: o Ozempic parece reduzir o desejo das pessoas por álcool. Além disso, aparentemente outras pessoas já perceberam o mesmo efeito com substâncias como o tabaco opioides. Há também quem relate a redução de comportamentos compulsivos como jogos de azar e compras online.

Nos consultórios e nas casas de quem utiliza o medicamento, a constatação veio como surpresa. Mas para parte da comunidade científica o efeito já era esperado.

O Ozempic e o papel da dopamina

O Ozempic é um remédio que possui como ativo a substância semaglutido, que pertence à classe de medicamentos GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon 1). Ele age regulando os níveis de açúcar no sangue e, por isso, dá a sensação de saciedade por mais tempo após as refeições.

Mas o Ozempic não tem apenas esse efeito no organismo. Estudos mostram que ele também reduz a liberação de dopamina em uma região do cérebro chamada de estriado, que é que controla a motivação.

Dessa forma, alimentos gordurosos, bebidas alcoólicas e nicotina, por exemplo, que costumam liberar dopamina, fazem com que uma pessoa sinta vontade de repetir a dose. Contudo, o Ozempic pode cortar esse efeito.

Isso já foi observado em estudos com animais: o GLP-1 reduziu o consumo de nicotina, opióides e psicoestimulantes, como a cocaína e a metanfetamina.

Ainda é cedo

Há mais de uma década, um grupo de pesquisadores da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, têm estudado isso. Como resultado, já publicaram quase uma dúzia de estudos sobre os mecanismos desses medicamentos no consumo de álcool e na recaída de animais viciados.

Embora os resultados sejam promissores, ainda existem diversas variantes desconhecidas, que exigirão anos de pesquisa aprofundada. Isso porque o Ozempic pode não funcionar contra o álcool da mesma maneira para todos – especialmente com pessoas que não têm obesidade.

Um pequeno estudo realizado com outro medicamento GLP-1 descobriu que a substância reduziu o consumo de álcool em pessoas com obesidade, mas aumentou o consumo em pessoas que não têm obesidade.

Ainda não se sabe o motivo, mas futuros estudos devem se aprofundar na questão.

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Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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