Gene injetado no cérebro de macacos reduziu consumo de álcool em 90%

Pesquisa ligada à liberação de dopamina indica possibilidade de uso da terapia genética no tratamento de alcoolismo
Imagem: Pixabay/ Reprodução

Um estudo publicado na revista Nature Medicine testou em macacos uma terapia genética inovadora: ela estimula a liberação de dopamina no cérebro para tratar o vício em bebidas alcoólicas. Como resultado, os animais que receberam o tratamento diminuíram o consumo de álcool em até 90%.

Como o álcool age no cérebro

O álcool desencadeia a liberação de dopamina, o hormônio no prazer, no cérebro. A substância química é responsável por gerar uma sensação de bem-estar bastante conhecida, o que faz com que a bebida alcóolica seja viciante.

Seu consumo crônico, no entanto, diminui a liberação de dopamina, o que faz com que as pessoas viciadas em álcool tendam a não sentir mais prazer em beber. Elas passam a beber mais, com a necessidade de manter o estado de embriaguez e o sentimento de bem-estar.

A reposição de dopamina

A pesquisa estimulou novamente a liberação de dopamina no cérebro de macacos viciados em álcool para compreender os efeitos disso sobre o consumo de álcool. 

Para isso, os autores do estudo inseriram um gene que produz a proteína GDNF em um feixe de neurônios próximo ao tronco cerebral. Essa região do cérebro já está envolvida no mecanismo de processamento de recompensas, e a proteína utilizada já havia demonstrado estimular a produção de dopamina em estudos anteriores. O estudo usou vírus para transportar o material genético necessário para os neurônios.

A cada vez que os pesquisadores reintroduziam o álcool após um período de abstinência, os animais que recebiam a terapia genética bebiam menos do que antes do tratamento. Depois de um ano de experimento, alternando períodos de abstinência de quatro semanas e um período de quatro semanas bebendo, o consumo de álcool dos macacos caiu mais de 90%.

Ressalvas

Apesar dos bons resultados, a pesquisa ainda é apenas o início do estudo do uso de terapia genética para o consumo abusivo de bebidas alcóolicas. Ainda não está claro se os resultados são permanentes e quais os efeitos colaterais que a interferência na via da dopamina pode causar às pessoas.

Os pesquisadores observaram que os macacos tratados bebiam menos água, não estavam tão interessados ​​em uma solução açucarada e perderam cerca de 18% do peso. Como a substância está envolvida com aspectos como a motivação das pessoas, a terapia genética pode influenciar também outros comportamentos, como mudanças no humor.

Além disso, o uso de terapia genética no cérebro oferece diversos riscos, como sangramento, infecção, reações imunológicas graves e, potencialmente, câncer. Dessa forma, são necessárias mais pesquisas antes de que a técnica chegue a humanos.

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Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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