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Cientistas identificam fonte misteriosa de produto químico que ameaça recuperação da camada de ozônio

A recuperação do buraco na camada de ozônio é por excelência uma história de sucesso ambiental. Ela é o resultado do trabalho em harmonia de todo o mundo por décadas para eliminar gradualmente os produtos químicos que destroem o ozônio. Por isso, foi um choque quando se descobriu, no ano passado, que emissões de CFC-11, […]

imagem de satélite da camada de ozônio

Foto: NASA Johnson/Flickr

A recuperação do buraco na camada de ozônio é por excelência uma história de sucesso ambiental. Ela é o resultado do trabalho em harmonia de todo o mundo por décadas para eliminar gradualmente os produtos químicos que destroem o ozônio. Por isso, foi um choque quando se descobriu, no ano passado, que emissões de CFC-11, um desses produtos químicos que haviam sido proibidos, estavam subitamente revertendo o curso desse feito da humanidade.

Agora, os cientistas identificaram a fonte primária das perigosas emissões. A descoberta, publicada na Nature na quinta-feira (16), mostra que o leste da China é responsável por mais de 60% do aumento recente das emissões de CFC-11. Os resultados podem ajudar as autoridades chinesas a descobrir as fontes exatas e parar as emissões antes que elas causem um grande revés à recuperação do buraco de ozônio.

O mundo está a caminho de resolver o problema do buraco na camada de ozônio na década de 2060, graças, em grande parte, à cooperação por meio do Protocolo de Montreal. Esse tratado internacional entrou em vigor em 1989 e celebrou o acordo entre as nações para reduzir os produtos químicos que causam a depleção do ozônio, muitos dos quais estão envolvidos em processos industriais.

O CFC-11 é um desses produtos químicos usados ​​na refrigeração e na produção de espumas. Suas emissões vêm declinando há décadas, graças à eliminação progressiva e aos esforços para recolher quaisquer materiais remanescentes feitos com ele e depositá-los para destruição. Mas em 2012, o declínio nas emissões começou a desacelerar, o que significa que havia uma fonte irregular produzindo o produto químico ou, pelo menos, emitindo-o.

“O estudo no ano passado usou dados de um ambiente remoto e limpo no Havaí”, disse Matt Rigby, principal autor do estudo e cientista atmosférico da Universidade de Bristol, ao Gizmodo. “Isso permite que você identifique mudanças globais nas emissões.”

Rigby e outros cientistas que trabalham na questão tinham um palpite de que a China poderia ser a fonte de emissões ilegais, mas eles não conseguiram descobrir isso apenas a partir do conjunto de dados do Havaí.

Então, eles recorreram às estações de monitoramento do ar no Japão e na Coréia para o novo estudo e modelagem climática. As descobertas mostram que as emissões de CFC-11 da China passaram de uma média de 6,4 gigagramas por ano entre 2008-12 para 13,4 gigagramas por ano entre 2014 e 2017.

A modelagem das condições climáticas ajudou a identificar os resultados para mostrar que o nordeste da China é o fonte das emissões. O método, porém, não permite identificar fábricas específicas como culpadas.

O país disse que planeja reprimir a fonte das emissões como parte de seu compromisso com o Protocolo de Montreal, e as descobertas dão um caminho mais específico de onde procurar as emissões excedentes.

“A nova análise restringe as opções de fontes e locais, fornecendo evidências mais fortes de que as emissões são provenientes de nova produção (não de depósitos, por exemplo) e do leste da China, e isso deve pressionar mais a China para investigar e restringir qualquer produção irregular.” Durwood Zaelke, presidente do Instituto de Governança e Desenvolvimento Sustentável, disse ao Gizmodo em um email.

Os resultados também apontam para o valor do monitoramento da qualidade do ar. Sem as medições locais, nunca saberíamos que o nordeste da China era a fonte das emissões de CFC-11.

“Só podemos ver algumas centenas de quilômetros a partir das estações de medição”, disse Rigby. “Com a infraestrutura que temos, podemos fazer essa análise na América do Norte, em partes da Europa e em uma pequena parte da Ásia oriental”.

Existem claramente outras fontes de emissões irregulares, e o aumento da rede de estações de monitoramento será uma forma de manter essas emissões agora e no futuro, para garantir que o CFC-11 continue sendo gradualmente eliminado.

Fazer isso oferecerá vários benefícios. O primeiro tem a ver com o buraco da camada de ozônio. Rigby disse que as novas emissões em si são modestas, mas se elas “continuarem nos níveis atuais, estamos potencialmente olhando para atrasos, anos ou uma década” para que o buraco na camada de ozônio diminua até os níveis do início dos anos 80.

O CFC-11 também é um potente gás de efeito estufa que tem cerca de 5 mil vezes o potencial de aquecimento do dióxido de carbono. Rigby disse que o aumento nas emissões do nordeste da China tem o mesmo impacto no clima que todas as emissões de carbono de Londres.

Também há a questão simbólica. O Protocolo de Montreal é o maior exemplo das histórias de sucesso em políticas ambientais. Numa época em que tudo parece estar desmoronando, deixar o tratado fracassar criaria um precedente perigoso.

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