Ciência

Cientistas usam cianobactérias para criar proteínas “semelhantes à carne”

Introduzindo um gene nas algas, elas passam a produzir fibras de proteína com textura de carne que podem virar produtos no futuro
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Em meio às iniciativas da indústria de fornecer proteínas alternativas às proteínas animais, pesquisadores da Universidade de Copenhague descobriram uma nova possibilidade. A partir de cianobactérias, também conhecidas como algas azuis-verdes, eles puderam produzir fibras de textura e valor nutricional muito semelhantes aos da carne.

“Poder manipular um organismo vivo para produzir um novo tipo de proteína que se organiza em fios é algo raramente visto a este ponto – e é muito promissor”, afirma Poul Erik Jensen, um dos cientistas envolvidos no estudo.

Como funciona

Para produzir as fibras de proteína, os pesquisadores utilizaram as cianobactérias como hospedeiras. Assim, inseriram genes estrangeiros nas amostras, que permitiram que a produção de proteínas se organizasse em filamentos – pequenos fios ou nanofibras, como chamam os cientistas.

“As cianobactérias são organismos vivos que conseguimos fazer produzir uma proteína que elas não produzem naturalmente. O aspecto particularmente emocionante aqui é que a proteína se forma em filamentos fibrosos que se assemelham um pouco às fibras de carne”, explica Jensen.

Mas, claro, o tipo de cianobactéria utilizado não é aquele famoso por ser tóxico. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista ACS Nano.

Por que as cianobactérias?

De modo geral, elas oferecem possibilidades nutritivas e sustentáveis. Isso porque, assim como as plantas, elas crescem por meio da fotossíntese, consumindo dióxido de carbono. E, para sobreviver, precisam apenas de raios solares e água.

Para os pesquisadores, elas também representam a possibilidade de utilizar as algas inteiras em produtos alimentícios. Dessa forma, elas requerem pouco processamento. 

“Na pesquisa de alimentos, procuramos evitar muito processamento, pois compromete o valor nutricional de um ingrediente e também consome muita energia”, explica Jensen.

Além disso, as cianobactérias contêm uma grande quantidade de proteína e ácidos graxos poli-insaturados, nutrientes que trazem benefícios à saúde.

Uma aposta para o futuro

Embora cianobactérias como a espirulina já sejam cultivadas industrialmente em vários países, os pesquisadores afirmam que ainda é necessário descobrir como fazer isso com as fibras de proteína.

Em geral, a espirulina é produzida em lagoas de cultivo a céu aberto ou em câmaras de fotobiorreatores, nas quais os organismos crescem em tubos de vidro. Mas no caso da produção de filamentos de proteína, o quebra-cabeça ainda está sendo desvendado.

“Precisamos refinar esses organismos para produzir mais fibras de proteína e, ao fazê-lo, ‘sequestrar’ as cianobactérias para trabalhar para nós. Não alcançaremos nosso objetivo amanhã por causa de alguns desafios metabólicos no organismo que precisamos aprender a enfrentar. Mas já estamos no processo e tenho certeza de que podemos ter sucesso”, conclui Jensen.

Por enquanto, os pesquisadores apontam a Dinamarca como um local possível para estabelecer “fábricas de microalgas“. Isso porque, por lá, há diversas empresas de biotecnologia competentes, além de um setor agrícola forte.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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