Estudo em ratos revela que o cigarro eletrônico pode ser cancerígeno
A crescente popularidade dos cigarros eletrônicos levou a uma disputa ferrenha na saúde pública — um grande debate sobre o vape (vaporizador), se você preferir. Por um lado, existem médicos e defensores do produto que insistem que usar o cigarro eletrônico é uma maneira atraente e relativamente segura para fumantes ficarem longe de produtos de tabaco muito mais perigosos. Por outro lado, existem aqueles que dizem que os riscos do vaporizador não estão claros e que eles ainda podem rivalizar com os do fumo tradicional. Um estudo em ratos, publicado nesta segunda-feira (29) na Proceedings of the National Academy of Sciences, oferece combustível para ambos os lados.
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Pesquisadores da Universidade de Nova York expuseram ratos ao vapor de cigarros eletrônicos (na verdade, um aerosol gerado por calor que contém nicotina junto com alguns solventes orgânicos) e os compararam com um grupo de controle que havia recebido ar filtrado.
Os ratos “vaporizados” tinham maiores sinais de danificação no DNA em vários de seus órgãos, mais especificamente o pulmão, o coração e a bexiga. Seus órgãos eram também menos capazes de reparar o DNA. Outro experimento descobriu exatamente o mesmo padrão em células de pulmão e bexiga humanas expostas à nicotina e a uma substância química que vem da nicotina, a nitrosamina cetona.
“Baseados nesses resultados, nós propomos que [o vapor do cigarro eletrônico] é cancerígeno e que fumantes de cigarros eletrônicos têm um risco maior do que os não-fumantes de desenvolver câncer de pulmão e bexiga e doenças cardíacas”, escreveram os pesquisadores.
No entanto, conforme admitem os autores, a fumaça de tabaco está repleta de outras substâncias químicas nocivas que podem causar câncer, além de outros problemas de saúde, como o enfisema. O estudo parece reafirmar a premissa básica de que os cigarros eletrônicos não são tão perigosos quanto os produtos de tabaco, mas ele não é o primeiro a sugerir que eles têm seus próprios riscos (sem falar nos diversos sabores adicionados a eles).
O problema vem quando se tenta medir qual o tamanho do risco adicional que os cigarros eletrônicos representam para a sua saúde. Pode levar anos, senão décadas, de pesquisa observacional para apontar o quão cancerígeno algo pode ser. Isso pode ser ainda mais difícil para cigarros eletrônicos, já que muitos usuários são ou antigos ou atuais fumantes de cigarro comum. E não teria jeito fácil de dizer onde termina o risco de câncer vindo do fumo e onde começa o risco de câncer vindo da vaporização.
Para as pessoas que usam cigarros eletrônicos como forma de largar o cigarro comum, essa incerteza pode ser algo perfeitamente ok de se conviver — aliás, uma chance menor de desenvolver câncer ainda é melhor do que nada.
Mas os autores apontam que são os adolescentes que estão rapidamente se tornando fãs dos cigarros eletrônicos, muitas vezes porque eles acreditam que não há perigo envolvido (pesquisadores de ambos os lados do debate são concordam quanto à necessidade de se regular os cigarros eletrônicos com o mesmo rigor dos cigarros comum, em parte para mantê-los longe das mãos de adolescentes).
Em 2015, 16% dos estudantes de ensino médio nos Estados Unidos disseram ter usado cigarros eletrônicos, tornando-o o produto de nicotina mais popular entre os jovens. Mais recentemente, no entanto, esse número caiu misteriosamente. E existem provas iniciais de que os usuários adolescentes de cigarro eletrônico têm maior chance de dar o salto para o tabaco quando crescem, enquanto outros podem se tornar viciados em nicotina, algo que não aconteceria sem o cigarro eletrônico ali.
Por fim, se essas modas vão levar a um conjunto completamente novo de problemas daqui a algumas décadas ou não, ainda não temos uma boa resposta para isso.
Imagem do topo: Getty Images