Ondas de calor no Brasil estão 1°C mais quentes que antes, diz estudo
No total, o Brasil enfrentou 12 ondas de calor entre 2023 e 2024. No ano passado, o país somou 65 dias de temperaturas muito altas, o que equivale a cerca um quinto do ano (18%), segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
Embora especialistas já apontassem a influência das mudanças climáticas nesse novo padrão, um estudo recente reforçou essa correlação. De acordo com a pesquisa do ClimaMeter, as ondas de calor estão 1°C mais quentes do que aquelas que aconteceram no Brasil em períodos anteriores.
O ClimaMeter é uma organização que reúne cientistas do clima, cujas pesquisas focam em análises de curtíssimo prazo.
Mudança nos padrões
Para analisar as alterações no padrão das ondas de calor, a pesquisa do ClimaMeter examinou eventos similares, comparando os que aconteceram neste século (de 2001 a 2023) com os do período anterior (1979 a 2001).
Eles notaram que as temperaturas extremas eram comuns entre novembro e dezembro, momento em que o Brasil transiciona da primavera para o verão. Contudo, agora as ondas de calor também são bastante presentes em fevereiro e março.
Para os especialistas, isso acontece porque o aquecimento global não tem efeitos homogêneos durante as estações. Dessa forma, pioram o aumento das temperaturas não só nos períodos já mais quentes, como também ao longo da primavera e do outono.
Além disso, observando os padrões das ondas de calor há décadas, os cientistas identificaram a elevação em 1°C.
Efeito humano
O estudo considera a ocorrência do El Niño, que influenciou o aumento das temperaturas durante o segundo semestre de 2023 e o início de 2024. Contudo, ressalta que a mudança dos padrões das ondas de calor tem como principal responsável a crise climática.
Causadas pela emissão de gases de efeito estufa, geralmente ocasionada pela queima de combustíveis fósseis, as mudanças climáticas são efeitos da ação humana. “O relatório AR6 do IPCC estabelece uma relação clara entre ondas de calor e mudança climática no Brasil”, apontaram os autores do estudo.
Segundo eles, o documento em questão reforça a correlação por meio de projeções que evidenciam o aumento da mortalidade relacionada a esses episódios de temperatura extrema no sudeste da América do Sul. Além disso, o relatório também já alertava para o aumento da frequência das ondas de calor na região devido às mudanças climáticas.
Por isso, os cientistas reforçam a necessidade de eliminar os combustíveis fósseis da matriz energética global o mais rápido possível.
“Se continuarmos queimando, mantendo a utilização de combustíveis fósseis, o que se espera é que essas ondas de calor aqueçam o Brasil com cada vez mais frequência e com maior intensidade”, conclui Davide Faranda, um dos líderes do estudo.