“Cofre do Apocalipse”, local que conserva sementes no Ártico, tem tour virtual
Um inusitado edifício quadrado e cinza cravado no meio do gelo do Ártico da Noruega guarda um grande tesouro para a humanidade: são mais de 1,2 milhão de amostras de sementes de quase todos os países do mundo.
O local – conhecido como “Doomsday” ou “Cofre do Apocalipse” – tem cinco portas de metal e raríssimas pessoas têm autorização para entrar nele. Ou pelo menos tinham, até agora. Para comemorar os 15 anos do cofre, os mantenedores criaram um tour digital pelo local misterioso. Clique aqui para acessar.
A visita permite ver onde estão as sementes que ficarão preservadas em caso de catástrofes locais (ou generalizadas) na Terra. O espaço só é aberto algumas vezes por ano para a entrada de novas sementes, uma forma de proteger as culturas da extinção.
“Em um mundo onde a crise climática, perda de biodiversidade e conflitos desestabilizam cada vez mais nossos sistemas alimentares, nunca foi tão importante proteger essas pequenas sementes que têm tanto potencial para adaptar nossa alimentação a ameaças globais”, disse Stefan Schmitz, diretor executivo da Crop Trust, que co-administra o cofre.
As sementes armazenadas no local servem como um “backup” para uma rede global de 1,7 mil cofres menores conhecidos como “banco de genes”. Os países depositam cópias das sementes nesses locais, enquanto as instalações do Doomsday as mantêm seguras.
Por que fazer o tour digital
Mesmo sem estar presencialmente, vale a pena fazer uma visita ao Cofre do Apocalipse. O tour permite uma “caminhada” ao longo da estrutura que fica guardada em uma das montanhas cheias de neve da Noruega.
É um passeio rico em detalhes: dá para se sentir parte da equipe ao passar pelo hall onde estão os casacos e atravessar os corredores cheios de sementes. As prateleiras vão do chão ao teto e há espaço para adicionar outras milhares de caixas de grãos.
Para garantir a preservação, o cofre tem mais de 120 metros de rocha em seu ponto mais profundo. E as sementes ficam em um ambiente de -18ºC, o padrão internacional para conservação das espécies.
“É um pouco como estar em uma catedral. Tem tetos altos e quando você está dentro da montanha, quase não há som. Tudo o que você pode ouvir é você mesmo”, contou Lise Lykke Steffensen, diretora executiva da NordGen, banco de genes dos países nórdicos que lida com a operação do cofre, ao jornal The Guardian.
Novas sementes
Só em 2023, o cofre já recebeu novos depósitos de grãos de morangos silvestres, trigo, milho e arroz. Uma organização da Macedônia do Norte depositou uma variedade de pimenta vermelha ajvarka, usada para produzir um tempero popular.
Enquanto estão no cofre, as plantas continuam sendo de propriedade do país depositante. Isso significa que podem ser retiradas caso o estoque fique comprometido.
Foi o caso da Síria, que em 2015 retirou sementes para reiniciar o Centro Internacional de Pesquisa Agrícola nas Áreas Secas, depois que um conflito armado prejudicou um banco local.