Ciência

Colômbia diminui casos de dengue liberando mosquitos modificados no ambiente

Mosquitos com bactéria Wolbachia também já foram implementados em regiões do Brasil e tiveram sucesso na contenção da dengue
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Três cidades na Colômbia viram uma queda de quase 100% na incidência de dengue nos últimos oito anos. Isso aconteceu devido à introdução de mosquitos portadores de Wolbachia, uma bactéria que impede o inseto de transmitir o vírus da doença. 

Os responsáveis por essa ação fazem parte do World Mosquito Program (WMP). Eles apresentaram os resultados da ação na reunião anual da American Society of Tropical Medicine and Hygiene em Chicago, Illinois. 

Agora, também estão conduzindo experimentos como esse na Austrália, no Brasil, na Indonésia e no Vietnã.

Como funciona a estratégia

Os mosquitos Aedes aegypti são os transmissores da dengue, Zika, chikungunya e febre amarela urbana. Contudo, quando estão infectados com uma bactéria chamada Wolbachia, os mosquitos são muito menos propensos a transmitir essas doenças.

Isso porque as bactérias competem com os vírus, impedindo que ele se desenvolva dentro do mosquito.

Uma vez infectados, os insetos também passam a bactéria para sua prole, aumentando a população de mosquitos com Wolbachia e, consequentemente, diminuindo a quantidade daqueles que transmitem dengue.

De modo geral, os pesquisadores do WMP consideram uma área “totalmente tratada” quando mais de 60% dos mosquitos que vivem ali carregam Wolbachia.

O que aconteceu na Colômbia

O WMP implantou pela primeira vez mosquitos modificados na Colômbia em 2015 e gradualmente expandiu as liberações até o final de 2020. 

Os locais foram escolhidos de maneira estratégica, pois eram algumas das regiões mais populosas do país: o Vale do Aburrá e as cidades de Bello, Itagüí e Medellín. Eventualmente, as duas primeiras chegaram ao status de “totalmente tratadas”. 

Recentemente, os pesquisadores mediram a incidência de dengue nessas áreas e compararam com os números dos dez anos anteriores. Assim, eles descobriram que a incidência da doença havia caído 95% em Bello e Medellín e 97% em Itagüí.

Embora considerem a possibilidade de que a queda da dengue nos locais da ação seja apenas uma coincidência, os pesquisadores afirmam que os resultados são animadores. Para comprovar a correlação cientificamente, é preciso realizar um estudo clínico.

Eles já fizeram isso em Yogyakarta, na Indonésia. Dessa forma, descobriram que a tecnologia poderia reduzir a incidência de dengue em 77%. Contudo, os mosquitos modificados ainda não foram oficialmente aprovados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

E o Brasil?

De acordo com a ONU, o Brasil é o país das Américas mais afetado pelo surto de dengue em 2023. Somente no primeiro semestre, o número de casos superou o total de infecções de 2022. E ainda há o risco de uma epidemia de um novo subtipo da doença em 2024.

Aqui, o Método Wolbachia é conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento do Ministério da Saúde, em parceria com os governos locais. 

Ele já foi testado e obteve sucesso em algumas cidades, como Niterói, redução de cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de zika nas áreas onde houve a intervenção. 

Agora, WMP está conduzindo um estudo clínico em Belo Horizonte e anunciou outras seis cidades em que farão novos testes: Londrina, Foz do Iguaçu, Uberlândia, Natal, Joinville e Presidente Prudente.

Ainda há planos de expansão: a organização anunciou que pretende construir uma fábrica no Brasil. 

Assim, o país produzirá mosquitos modificados a serem liberados em muitas das áreas urbanas brasileiras nos próximos dez anos.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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