Conheça Colossus, o robô usado pelos bombeiros para combater o incêndio na Catedral de Notre-Dame
O mundo parou para olhar com tristeza e um pouco de esperança o incêndio que tomou conta da catedral de Notre-Dame, em Paris, na tarde de segunda-feira, 15 de março, um dia após o Domingo de Ramos. Tristeza pelas fortes imagens de destruição de uma construção importante não apenas para os católicos, como para o mundo ocidental como um todo. E esperança por causa da torcida para que os danos fossem os menores possíveis, e os bombeiros, bem-sucedidos em sua missão de controlar o fogo.
As chamas levaram horas para serem domadas, começando às 18h50 no horário local (13h50 no horário de Brasília), com o incêndio declarado sob controle às 3h de terça-feira (22h em Brasília). Os bombeiros, aplaudidos pelos parisienses que assistiam de perto o trabalho, foram saudados como verdadeiros heróis. Eles contaram, no entanto, com uma ajuda que passará relativamente despercebida: um robô chamado Colossus.
Talvez a imagem mais dolorosa do incêndio desta segunda-feira tenha sido a queda da flecha da catedral, a torre mais alta do edifício, que chegava a 93 metros acima do solo. Logo que perceberam que isso estava para acontecer, os bombeiros que trabalhavam no interior da construção foram chamados para fora, dando lugar para o Colossus.
Fabricado pela Shark Robotics, empresa de La Rochelle, comuna francesa situada na região de Nova Aquitânia, o robô Colossus é um drone terrestre feito para encarar situações perigosas demais para os seres humanos, especialmente em casos de ameaça de deslizamento, vazamento de gás ou temperaturas muito elevadas.
Merci Colossus un de nos héros ❤️ Voici le 1er robot français pompier lors de l’incendie de #Notre_dame_de_Paris ! Merci la technologie ? pic.twitter.com/R6boY1GLCV
— Arthur Benchetrit (@ArtBen) 16 de abril de 2019
O Colossus “permitiu apagar [parte do fogo] e abaixar a temperatura dentro da nave” da catedral, segundo Gabriel Plus, porta-voz dos bombeiros, em entrevista à agência de notícias AFP. Em uma declaração publicada pela rádio Europe1, Cyryl Kabbara, cofundador da Shark Robotics, afirmou que o robô, feito para ser totalmente modular, é capaz de realizar “diversas missões, como extinguir incêndios remotamente, evacuar pessoas machucadas, levar equipamentos ou conduzir trabalho de reconhecimento, usando suas ferramentas de inspeção de vídeo e sensores de gás”.
O Colossus, que pesa 500 kg, não conta com inteligência artificial para agir sozinho uma vez dentro de uma missão. Ele é comandado à distância pelos bombeiros. O robô de 1,60m tem um canhão d’água potente, capaz de disparar jatos fortes e até em formato de cone. Ele conta também com esteiras que possibilitam ao veículo subir escadas e deslizar sobre escombros. Capaz de levantar até duas toneladas, ele tem autonomia de oito horas.
Concebido com o auxílio dos bombeiros e sua expertise, o Colossus não foi o único equipamento tecnológico utilizado nos trabalhos de combate ao incêndio da catedral de Notre-Dame desta segunda-feira. Drones da DJI foram utilizados pelos bombeiros para visualizar como o fogo estava se espalhando dentro da estrutura, ajudando a determinar as posições em que as mangueiras disparando água seriam mais eficazes.
Tecnologia pode desempenhar papel na reconstrução
A resposta à destruição parcial da catedral de Notre-Dame foi quase imediata, o que não é surpresa, dada sua importância para Paris, para a França e também para o mundo ocidental.
Famílias bilionárias francesas, proprietárias ou sócias de importantes grupos como Kering, LVMH e L’Oréal, anunciaram a doação de € 600 milhões (mais de R$ 2,6 bilhões), enquanto a cidade de Paris e a região de Ile-de-France, que inclui Paris e seus arredores, destinarão € 50 milhões e € 10 milhões, respectivamente. E, para esse trabalho de restauração do que foi perdido, a tecnologia poderá ser, mais uma vez, importante.
Isso porque, em 2015, o agora falecido historiador da arquitetura Andrew Tallon liderou um projeto de mapeamento digital do interior e do exterior da catedral, gerando assim uma réplica digital exata da construção, que pode ser uma base essencial para os trabalhos dispendiosos daqui para a frente.
Versão digital da catedral. Imagem: Divulgação/Andrew Tallon
Símbolo de uma das cidades mais importantes do mundo, a Catedral de Notre-Dame começou a ser construída em 1163 e levou 180 anos para ser concluída. Em seus mais de oito séculos de história, foi restaurada várias vezes, sendo palco também de inúmeros acontecimentos históricos, como a coroação de Napoleão em 1804, a festa pela libertação de Paris na Segunda Guerra Mundial, além de ponto de culto à razão após a Revolução Francesa.