Por causa de sua grande diversidade étnica, o Brasil pode ser o país escolhido para sediar o primeiro biobanco global de células-tronco. Confira abaixo os detalhes da pesquisa que colocou o país no topo desse projeto.
As células-tronco já revolucionaram a saúde e a medicina global. Por isso, criar um biobanco global, onde qualquer pessoa possa encontrar um doador de medula óssea para um transplante de células-tronco, pode revolucionar ainda mais a ciência.
Uma pesquisa publicada na revista científica Stem Cell Reports, no dia 28 de setembro, analisou dados genéticos e informações de outros biobancos de células-tronco, para destacar a possibilidade do Brasil ter o primeiro biobanco global.
A pesquisa é de autoria de Antônio Carlos Campos de Carvalho da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Márcio Lassance Martins de Oliveir, do Instituto Nacional de Cardiologia do Brasil, Ministério da Saúde.
Segundo a pesquisa, a mistura de anscetrais africanos, indígenas e europeus no Brasil criou uma diversidade genética que pode fornecer células-tronco pluripotente induzida (iPS) a outros países, criando, portanto, um biobanco global.
A necessidade de um Biobanco Global
A compatibilidade do doador reduz significativamente o risco de um paciente rejeitar um transplante de células-tronco. Em situações em que há a necessidade de transplante, como doenças sanguíneas graves, parentes são os primeiros na fila de doação. No entanto, conforme aponta o estudo, apenas 12% dos parentes acabam sendo compatíveis.
Por isso, a pesquisa ressalta que a criação de um biobanco global de células-tronco pode aliviar essas pressões — e o Brasil seria o lugar ideal. Porém, o número de amostras necessárias para garantir uma diversidade suficiente de linhagens celulares ainda é desconhecido.
30 linhagens celulares
Para identificar o número ideal de linhagens celulares doadoras no Brasil, a equipe de pesquisa utilizou dados do Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME).
Para cobrir 50%, 75%, 85% e 95% da população brasileira, a equipe estimou que 51, 157, 267 e 559 linhagens celulares seriam necessárias, respectivamente. Além disso, eles previram que mais de 4 milhões de indivíduos precisariam ser testados para cobrir 99% dos brasileiros.
Contudo, apenas 30 linhagens celulares foram suficientes para combinar com quase 40% dos brasileiros.
Ao cruzar essas linhas com o Banco de Dados de Frequência de Alelos (AFND), que compila dados genéticos de 369 estudos e mais de 10 milhões de indivíduos globalmente, é possível cobrir cerca de 40% dos caucasianos, 12% dos descendentes africanos, 25% dos nativos do Alasca e nativos americanos, e menos de 4% da população asiática nos EUA.
Diversidade é a vantagem do Brasil
As diferenças observadas nas análises entre várias populações destacam a necessidade de um biobanco de células-tronco, para o qual o Brasil poderia contribuir significativamente.
“Esperamos que a publicação dos dados atuais incentive os registros existentes de doadores de medula óssea a compartilhar dados que permitam cálculos mais precisos da dimensão de um banco global de células-tronco para fornecer à população mundial essa importante fonte de terapia avançada para a medicina regenerativa.”
Conforme o mundo se aproxima da criação de um biobanco global de células-tronco, a diversidade étnica brasileira pode ser a chave para realizar esse sonho.