Como fala sobre e-sports da ministra Ana Moser repercutiu na comunidade gamer

Entrevista de ex-atleta retomou discussão antiga: e-sports, afinal, também são esportes?
Imagem: Fotos Públicas/Reprodução

Em entrevista ao portal UOL, a ministra do esporte, Ana Moser, declarou que o governo brasileiro não pretende realizar investimentos em esportes eletrônicos — ou e-sports. Segundo Moser, jogos do tipo pertencem à indústria do entretenimento e, portanto, não deveriam ser o foco de políticas públicas.

A declaração da ex-jogadora de vôlei, porém, repercutiu negativamente entre a comunidade gamer, sobretudo entre os jogadores que disputam competições profissionais de e-sports.

O atleta de e-sports treina, mas a Ivete Sangalo também treina para dar show e ela não é atleta, ela é uma artista que trabalha com entretenimento”, disse Moser, em entrevista ao UOL

E-sports são competições de jogos eletrônicos nas quais jogadores vinculados a instituições profissionais, competem em torneios em torneios entre si. Já esporte é definido como prática individual ou coletiva que demande exercícios físicos para manutenção da saúde ou disputa de competições. Dá para se divertir fazendo ambos (e também levar ambos a sério). Mas a discussão sobre se “e-sports” são esportes vai longe.

E-sports são esportes?

Tá aí uma pergunta difícil de responder. Há argumentos para os dois lados: jogos eletrônicos se diferem das modalidades convencionais por serem propriedade intelectual de uma empresa. Isso quer dizer que, ainda que sejam gratuitos, eles demandam uma estrutura específica oferecida por uma companhia privada (plataforma, servidores, atualizações, etc). Esportes convencionais, por outro lado, têm prática mais “informal”, e não dependem de um mesmo cenário para acontecer. Você não precisa de uma quadra de vôlei oficial para jogar com amigos, por exemplo.

Do outro lado, existe o argumento de que os “e-atletas” têm uma preparação tão complexa quanto a de atletas convencionais. Além de longas sessões de repetições para aprimorar suas habilidades no game, há também treinos e acompanhamentos para o aspecto físico e, principalmente, mental — algo essencial em esportes de alto-rendimento.

“Mas e a parte física da coisa?”, você, leitor, poderia argumentar. Bom, ainda que a maioria dos esportes esteja ligada a “suar à camisa”, há modalidades em que isso não é o principal foco. É só pegar como exemplo arco e flecha e o tiro esportivo, por exemplo. Habilidades como concentração e repetição dos mesmos movimentos são mais importantes do que um ultrapreparo atlético.

A mesma discussão poderia se estender a práticas como o xadrez (e até mesmo o pôquer). Há um grande investimento da parte mental, mas ainda são mais ligados à diversão. Dá para chamá-las de esporte?

Por não serem considerados atletas, os jogadores de e-sports não recebem alguns benefícios, como o bolsa atleta, auxílio que patrocina atletas e para-atletas de alto rendimento. O programa criado em 2005 oferece uma ajuda financeira para esportistas não patrocinados por instituições privadas.

A fala vai na contramão de uma declaração do presidente Lula, que afirmou que “videogame não é apenas entretenimento, é também cultura, emprego e desenvolvimento tecnológico”. Durante a campanha, Lula disse ter recebido representantes do setor que fizeram propostas de políticas públicas para o Plano de Governo do então candidato.

O streamer Gaules, fez uma chamada para sua live na Twitch ironizando a afirmação, enquanto Felippe Corradini, chefe da Red Canids, equipe três vezes campeã de LOL (League of Legends) classificou a declaração de Ana Moser como “inacreditável”.

Ao UOL, Nobru, ex-jogador e proprietário do Fluxo, equipe de Free Fire, lamentou o fato de a ministra não pretender investir no segmento e reforçou o potencial transformador que os esportes eletrônicos possuem citando seu próprio exemplo.

“Tenho certeza que os jogos eletrônicos apareceram para dar novas esperanças para a criançada, mostrar que a gente consegue vencer na vida, assim como eu venci. Hoje em dia consigo sustentar a minha família e tenho uma empresa com 200 funcionários. Então, senhora ministra, é lamentável saber que a senhora não considera eSports um esporte e que você não pretende investir”

Peacemaker, um dos técnicos mais renomados do cenário profissional de Counter-Strike: Global Offensive (CSGO) respondeu com ironia uma matéria que repercutiu a fala da ministra.

Jaime Pádua, co-fundador da FÚRIA, considerou rasa a opinião da ex-jogadora sobre e-Sports.

Assine a newsletter do Giz Brasil

Vinicius Marques

Vinicius Marques

É jornalista, vive em São Paulo e escreve sobre tecnologia e games. É grande fã de cultura pop e profundamente apaixonado por cinema.

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas