É possível transmitir energia solar do espaço? Tudo indica que sim. Não à toa, já existem empresas e governos trabalhando para tornar isso possível um dia.
Martin Soltau, um dos presidentes da SEI (Space Energy Initiative), afirmou que o mundo pode começar a receber a energia solar via micro-ondas a partir de 2035 – ou seja, pouco mais de 12 anos.
A organização, que reúne pesquisadores de universidades e da indústria do Reino Unido, trabalha no projeto Cassiopeia, uma iniciativa para implantar diversos satélites em órbita alta ao redor da Terra.
Esses sistemas devem colher energia solar e enviá-la de volta ao planeta. As expectativas são altas. “Em teoria, poderia fornecer toda a energia do mundo em 2050”, disse Soltau à BBC.
Segundo ele, há espaço suficiente em órbita para os satélites de energia solar. Além disso, o suprimento de energia vindo do Sol é praticamente interminável.
“Uma faixa estreita em torno da órbita geoestacionária da Terra recebe mais de 100 vezes a quantidade de energia por ano do que toda a humanidade está prevista para usar em 2050”, afirmou.
Em julho, o governo britânico anunciou 3 milhões de libras – quase R$ 17,7 milhões no câmbio atual – para financiar projetos de energia solar baseados no espaço. Em setembro, entidades da China também lançaram seus programas para viabilizar o setor.
O Laboratório de Pesquisa da Força Aérea dos EUA também trabalha para desenvolver tecnologias essenciais ao sistema.
A ideia é criar equipamentos que melhorem a eficácia das células solares, convertem a frequência solar para rádio e reduzam flutuações de temperatura nos componentes dos satélites – tudo para criar estruturas mais estáveis.
Como funciona?
Enviar energia solar do espaço para a Terra pode não ser tão complexo quanto se imagina – desde que se tenha as tecnologias certas.
Quando estão em órbita, os satélites coletam a energia solar e, depois, a convertem em ondas de rádio de alta frequência. Essas micro-ondas são irradiadas para uma antena retificadora na Terra, que as converte em eletricidade.
A estimativa é que os satélites forneçam, um por um, até 2 GW (gigawatt) de energia. Na comparação, é como se cada um deles tivesse a potência de uma usina nuclear. Isso porque, na Terra, a luz do Sol se difunde pela atmosfera. No espaço, os raios solares não têm essa interferência.
Os testes realizados até agora – a maioria em solo firme – apontam que os feixes de micro-ondas são eficazes e seguros para humanos e animais. Eles são como o wi-fi. “Têm baixa intensidade, quase um quarto da intensidade do Sol do meio dia”, explicou Soltau.
Questões a resolver
Mas ainda há ceticismo. Especialistas questionam se o lançamento de um grande número de painéis solares no espaço não seria excessivamente caro ou geraria muito dióxido de carbono na atmosfera.
Segundo Soltau, o cenário econômico para tecnologias de transição climática melhorou nos últimos anos. “O custo de lançamento caiu 90% e continua caindo, e isso mudou o jogo para a economia”, diz ele.
“Houve avanços reais no projeto de satélites de energia solar, de modo que eles são muito mais modulares, o que proporciona resiliência e custos de produção reduzidos. Também temos avanços reais em robótica e sistemas autônomos”.
Além disso, uma análise ambiental da Universidade de Strathclyde, na Escócia, concluiu que a pegada de carbono para esses projetos pode ser apenas metade da solar terrestre – ou seja, quase 24g de CO2 por quilowatt/hora.