Como se alimentar bem e sem destruir o planeta? Índice criado na USP responde
O relatório Food in the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems alerta para a urgência de mudanças na dieta global para que a saúde humana e a natureza melhorem. Publicado no jornal científico The Lancet, o documento propõe um modelo chamado Dieta da Saúde Planetária.
Foi pensando nisso que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram o Índice da Dieta da Saúde Planetária, capaz de avaliar a aderência de uma população às recomendações dessa dieta. Os dados mostram que, quanto maior a pontuação total do índice, menor a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) gerada na produção dos alimentos e maior a qualidade nutricional dos indivíduos. As análises também mostraram que as maiores pontuações constituíam dietas mais baseadas em vegetais (frutas, verduras, cereais integrais e feijões) do que em alimentos de origem animal e ultraprocessados, que são ricos em gorduras e açúcares.
Este é um método de análise coletivo que pode ser aplicado em caráter de pesquisa em diferentes contextos socioculturais para avaliar a dieta de determinado grupo — não vale para a aplicação individual em consultório, por exemplo. “Também podem ser uma forma de testar se essas recomendações dietéticas possuem efeito protetor para a saúde”, afirma o pesquisador Leandro Cacau ao Jornal da USP.
Entenda como a ferramenta funciona
Baseado nas recomendações da dieta proposta no relatório da EAT-Lancet, o índice é composto de 16 grupos de alimentos como o de carne vermelha e de frutas. Segundo Cacau, os indivíduos recebem uma pontuação gradual em cada um deles; ao final, ela pode variar de 0 a 150 pontos. Deste modo, quanto maior a pontuação total, mais saudável e sustentável é a dieta.
Os testes foram realizados em 14,7 mil brasileiros, funcionários de instituições públicas de ensino e pesquisa e participantes do Elsa-Brasil, estudo longitudinal que acompanha ao longo dos anos pessoas de vários estados do Brasil. A aplicação foi realizada em dados que foram coletados entre os anos de 2008 e 2010.
As pessoas que tiveram maior adesão a uma dieta saudável e sustentável foram os idosos, os não fumantes e aqueles que praticam atividade física.
Apesar de ter utilizado uma amostra da população brasileira, a ferramenta pode ser aplicada em outros países e essa é a próxima etapa do autor — que pretende avaliar se o índice também identifica a adesão à dieta saudável e sustentável em mais de 3 mil adolescentes da Europa.