Como um bicho preguiça brasileiro está mudando a história da arqueologia

Descoberta brasileira sobre o uso de ossos de preguiça joga luz sobre a data em que os humanos chegaram nas Américas
Imagem: Freepik/Reprodução

Uma descoberta no Brasil tem feito os arqueólogos questionarem o que sabemos sobre os primeiros habitantes das Américas. Os cientistas encontraram ossos de preguiça de 27 mil anos transformados por humanos em pingentes.

No último mês, a pesquisa publicada na revista científica Proceedings of the Royal Society B revelou a descoberta de artefatos no Abrigo de Santa Elina. Este abrigo rochoso é situado na Serra das Araras, no Mato Grosso.

Os pingentes encontrados têm uma estimativa de idade entre 25 mil e 27 mil anos. Os humanos modernos habitaram os outros continentes antes das Américas do Norte e do Sul, levantando dúvidas sobre o momento exato da chegada deles.

Antes da descoberta brasileira, acreditava-se que os humanos chegaram nas Americas entre 13 mil e 12 mil anos atrás. Isso torna estes ornamentos pessoais encontrados agora os mais antigos do continente.

No artigo, os estudiosos afirmam que a conclusão do nosso estudo traceológico é que eles intencionalmente modificaram os três osteodermos da preguiça gigante em artefatos antes da fossilização dos ossos

Ossos tinham marcas de raspagem, o que sugere que foram modificados por humanos. Imagem: Proceedings of the Royal Society B./Reprodução

O nível de detalhes das peças chamou atenção. Além disso, marcas microscópicas revelaram que alguém poliu as peças. Esses indícios tornam improvável que uma espécie que não seja o Homo sapiens tenha feito os buracos.

A autora sênior do estudo, Mírian Pacheco, professora e pesquisadora do Laboratório de Paleobiologia e Astrobiologia da Universidade Federal de São Carlos, compartilhou com a CNN que os artefatos “apresentam uma forma muito sugestiva de pingentes, principalmente devido ao polimento e à localização do furo.”

Estudado desde os anos 80

Muitos brasileiros desconhecem, mas arqueólogos estudam o abrigo rochoso de Santa Elina desde 1985. Pesquisas anteriores no local revelaram mais de mil figuras e sinais desenhados nas paredes.

Além disso, pesquisadores encontraram centenas de ferramentas de pedra e milhares de placas ósseas de preguiça. A última descoberta inclui três dessas placas com evidências de interferência humana.

Com esses indícios, poderemos no futuro consolidar a hipótese de que os humanos chegaram às Américas durante o Último Máximo Glacial. Esta foi a fase mais fria da última Era do Gelo.

Além da descoberta brasileira, pesquisadores encontraram pegadas humanas fossilizadas no Novo México em 2021. Essas pegadas têm uma datação de 21 mil a 23 mil anos, o que reforça a hipótese de que os humanos chegaram à América do Sul antes do que se pensava.

Entretanto, é necessário estudar muitos sítios arqueológicos na América do Sul, o que indica que o debate sobre esse tema ainda está longe de ser concluído.

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Gabriel Andrade

Gabriel Andrade

Jornalista que cobre ciência, economia e tudo mais. Já passou por veículos como Poder360, Carta Capital e Yahoo.

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