Compulsão por notícias ruins: estudo mostra que palavras negativas atraem mais

Pesquisa norte-americana mostrou que, estatisticamente, notícias ruins são mais chamativas quando apresentam palavras com conotação negativa no título
Compulsão por notícia ruim: estudo mostra que palavras negativas atraem mais
Imagem: Obi/Unsplash/Reprodução

Por que será que as notícias ruins têm tanto apelo com o público? Um novo estudo da Universidade de Nova York (EUA) comprovou estatisticamente que a responsabilidade não é 100% dos jornalistas, mas sim da própria natureza humana.

A pesquisa publicada na revista Nature Human Behavior em 16 de março descobriu que palavras negativas em manchetes de notícias aumentaram as taxas de consumo. Enquanto isso, termos positivos diminuíram os acessos. 

Em títulos de comprimento médio, cada palavra negativa adicional aumentou a taxa de cliques em 2,3%. Na prática, adicionar termos como “dano”, “feio”, “preocupante” ou “bravo”, por exemplo, pode aumentar a audiência nas reportagens online. 

Enquanto isso, palavras como “benefício”, “divertido”, “bonito” e “favorito” fazem o oposto: menos pessoas se sentirão atraídas para o texto. Segundo o estudo, esse comportamento tem a ver com a tendência do ser humano à negatividade – não só no consumo de notícias. 

O que a pesquisa mostrou

Os pesquisadores conduziram as análises a partir de uma série de ensaios clínicos randomizados. O conjunto de dados reuniu cerca de 105 mil variações de notícias do site Upworthy, que se dedica a narrativas positivas. As reportagens geraram 5,7 milhões de cliques e mais de 370 milhões de impressões. 

Os resultados comprovam em termos quantitativos uma percepção já batida na psicologia evolutiva: o fato de que o mal é mais forte do que o bem. 

Faz sentido. Um artigo de 20 anos muito citado pelos cientistas da área mostra que ignorar algo positivo pode trazer, no máximo, arrependimento. Já ignorar o perigo ou a possibilidade de um resultado ruim pode acabar com graves ferimentos ou morte. 

A comunicação também sabe disso há muito tempo. O teórico Harold Lasswell criou o conceito de “vigilância” para as pessoas que consomem notícias ruins buscando saber de novas ameaças, quase como uma espécie de “conforto”. 

Nem todas as notícias ruins são iguais  

O estudo também identificou diferentes efeitos sobre tipos de palavras positivas e negativas. Especialmente quatro emoções – raiva, medo, alegria e tristeza – tiveram correlações positivas significativas entre os julgamentos humanos e os cliques na notícia. 

Na prática, as palavras do título associadas à tristeza aumentaram os cliques. Enquanto isso, aquelas com associação a alegria ou medo, reduziram o consumo. Os termos relacionados com raiva não tiveram efeito estatístico significativo. 

Os autores classificaram a descoberta como “inesperada”: eles esperavam que raiva, medo e tristeza aumentassem os cliques. Os autores levantam a hipótese de que o medo e a raiva podem ser mais importantes no comportamento de compartilhamento – voltado para o público – do que cliques, que são privados.

Mesmo assim, o estudo apresenta números concretos de um velho conhecido das redações: os leitores são, sim, mais atraídos pela negatividade do que pela positividade – ainda que o efeito não seja tão proeminente quanto se imaginava.

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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