Um “minicérebro” criado em laboratório é capaz de sentir o ambiente, reagir a ele e até jogar videogame. A descoberta foi anunciada em artigo publicado pela empresa australiana Cortical Labs na revista Neuron, na última quarta-feira (12).
Os minicérebros começaram a ser desenvolvidos em 2013 para estudar a microcefalia, distúrbio genético em que o bebê nasce com o cérebro muito pequeno. Desde então, passou a figurar em pesquisas mais avançadas sobre o desenvolvimento cerebral.
A diferença é que, agora, é a primeira vez que os pesquisadores conectaram o minicérebro ao ambiente externo e o deixaram interagir com o mundo – neste caso, com um videogame.
Os pesquisadores cultivaram células cerebrais humanas em laboratório. Elas vêm de células-tronco e embriões de camundongos até formar uma coleção de 800 mil. Em seguida, a equipe conecta o minicérebro ao videogame Pong, cujo objetivo é mover uma barra na tela e evitar que a bola passe de um lado para o outro.
A conexão acontece via eletrodos que indicam de que lado está a bola e qual a distância da barra para rebater. Em resposta, as células produziram atividade elétrica própria e gastaram menos energia durante o desenrolar do jogo.
O minicérebro aprendeu a jogar em cerca de cinco minutos. Apesar de errar a bola algumas vezes, sua taxa de sucesso foi classificada como “boa”.
Legal, mas…
Neuroespecialistas descreveram o trabalho como “empolgante” à BBC, mas disseram que chamar as células cerebrais de senciente é ir “longe demais”. Senciência é o termo usado para denominar a capacidade de vivenciar e desenvolver sentimentos específicos a partir de uma experiência.
No caso do minicérebro, não há consciência: ele não sabe que está jogando da mesma maneira que um ser humano. Porém, as células conseguem receber informações de uma fonte externa, processá-las e responder em tempo real. “Não encontramos termo melhor”, disse o fundador da Cortical Labs, Brett Kagan.
A expectativa é que a tecnologia possa ser usada no teste de tratamentos para doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. “Avaliar a verdadeira função [das células cerebrais] pode ser útil para muitas outras áreas de pesquisa”, afirmou Kagan.
A próxima etapa do estudo é testar o impacto que o álcool tem na capacidade do minicérebro de jogar Pong. Se reagir de forma parecida com o cérebro humano, isso pode demonstrar quão eficácia terá nestes tratamentos.