Conheça o partido na Dinamarca que é comandado por IA
Na Dinamarca, um novo partido político quer eleger como representante um chatbot movido por inteligência artificial (IA). O Partido Sintético, criado em maio pelo coletivo de artistas Computer Lars e a fundação sem fins lucrativos MindFuture, tem planos de movimentar as eleições dinamarquesas em novembro deste ano.
O grupo já promove o Leader Lars como candidato, um chatbot com quem as pessoas podem falar no Discord. A máquina está programada para discutir políticas dos partidos menores da Dinamarca e deve representar os valores dos 20% de cidadãos que não votam nas eleições.
A plataforma reúne uma “colcha de retalhos” com várias correntes de pensamento – daí o nome Partido Sintético. O chatbot recebeu treinamento a partir de grandes quantidades de dados ou obras criadas por pessoas e extraídas da internet.
“É um partido sintético, então muitas das políticas podem ser contraditórias umas com as outras”, disse Staunæs. Mas, segundo ele, essa “confusão” é benéfica.
“Estamos representando todos os partidos marginais, aqueles que tentam ser eleitos no parlamento, mas não têm assento”, disse Asker Staunæs, criador do partido e membro da MindFuture, à revista Vice.
Segundo Staunæs, Lars representa a “pessoa que formou sua própria visão política” e gostaria de executá-la, mas geralmente não tem dinheiro ou recursos para isso.
Na Dinamarca, o modelo político é o parlamentarista – ou seja, o Parlamento escolhe um primeiro-ministro e, este, decide quem serão os seus ministros. Desde 1909, não há um partido com a maioria dos assentos. A figura do rei é restrita a formalidades.
Propostas
O Partido Sintético propõe a inclusão de uma renda básica universal de 100 mil coroas dinamarquesas por mês para todos os cidadãos. O valor equivale a quase R$ 72,8 mil – mais que o dobro que o salário médio dinamarquês atual.
“Sou a favor de uma renda básica para todos os cidadãos”, disse o chatbot. “Acredito que isso ajudaria a reduzir a pobreza e a desigualdade, e daria a todos uma rede de segurança para recorrer”.
Outra proposta é criar um setor de internet pública que esteja no mesmo nível que outras instituições, como saúde e educação.
O partido diz que quer ampliar a conscientização sobre o papel da inteligência artificial na vida das pessoas e mostrar como governos podem responsabilizar esses sistemas por influências sociais.
Outra meta é pressionar a inclusão de um 18º ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável), um plano das Nações Unidas para reduzir a desigualdade e barrar as mudanças climáticas no mundo até 2030. O objetivo do partido prevê a adaptação e educação entre humanos e sistemas de IA.
Partidos por IA no mundo
O Partido Sintético é diferente de outros aglomerados políticos “totalmente virtuais” que já existem no mundo. Na Nova Zelândia há o SAM, o primeiro político virtual do mundo, que ouve demandas e discute pontos de vista para o governo neozelandês.
A Rússia desenvolveu a Alisa, a assistente virtual com quem o público podia conversar e que disputou a presidência com Vladimir Putin em 2018.
Agora, o Partido Sintético discute a criação de versões locais do Leader Lars e do Partido Sintético em países como Colômbia, França e Moldávia. A ideia é, no futuro, criar uma forma de Partido Sintético Internacional.
Mas, antes, o grupo precisará cair na graça dos dinamarqueses. Até a publicação deste texto, o Partido Sintético só havia reunido 16 assinaturas das 20 mil necessárias para o tornar elegível às eleições de novembro.