Inteligência artificial encontra distúbios de saúde mental na voz de pacientes

Bastam 20 segundos para software analisar voz e atestar se pacientes têm alguma doença mental; sistema acaba de entrar no mercado dos EUA
Inteligência artificial identifica problemas de saúde mental com fala de pacientes
Imagem: Petr Machacek/Unsplash/Reprodução

Um software de inteligência artificial acaba de entrar no mercado dos EUA para apoiar clínicas e linhas de ajuda na identificação de problemas de saúde mental. O “biomarcador de voz” analisa a fala dos pacientes e, dependendo do que dizem, consegue sinalizar se a pessoa sofre de depressão ou ansiedade, por exemplo. 

Segundo a empresa Kintsugi, que desenvolveu e agora vende a tecnologia, o sistema só observa a forma como os pacientes falam, como seu tom de voz, entonação e ritmo de fala, e não o que dizem. 

Bastam 20 segundos de fala livre para que o robô detecte se alguém está enfrentando doenças como depressão ou ansiedade. O resultado tende a ter 80% de precisão. 

O modelo de aprendizado de máquina aprendeu a executar as amostras de voz a partir de um banco de dados de vozes anônimas. Agora, a Kintsugi busca a autorização do FDA (a Anvisa dos EUA) para reconhecer o produto como uma ferramenta de diagnóstico. 

Outra empresa, a Sonde Health, que também oferece seu próprio biomarcador de voz, diz que o software é um sistema de “alerta precoce”, e não um dispositivo para diagnóstico. Agora, a tecnologia passa por testes no Instituto de Comportamento Cognitivo dos EUA e, em breve, será integrada em aparelhos auditivos. 

Apesar da divergência sobre o conceito, as empresas concordam que, no futuro, os biomarcadores de voz podem ajudar na detecção de quase tudo, desde depressão até problemas cardiovasculares e respiratórios. 

Questões éticas 

A tecnologia pode ser promissora, mas certamente não é infalível. Ainda há poucos estudos que comprovem sua real eficácia, e a grande maioria deles vem das próprias empresas que vendem o software. Além disso, sempre há risco de uso indevido, como roubo de dados e invasão de privacidade, por exemplo. 

Em setembro de 2021, um editorial da revista médica The Lancet diz que há um “longo caminho” até que os biomarcadores de voz ganhem o endosso da comunidade científica. 

“Melhores padrões éticos e técnicos são necessários para que esta pesquisa realize plenamente o potencial dos biomarcadores vocais na detecção precoce de doenças”, diz o texto. 

Uma resenha, também do ano passado, da revista Digital Biomarkers, alerta que há risco de que esses sistemas aumentem os preconceitos sistêmicos em relação a pessoas de regiões ou sotaques específicos. 

Ou seja, o software poderia “aprender” que determinada forma de falar apresenta sinais de depressão. Mas, assim, corre risco de diagnosticar todos que falam daquela mesma forma sem se atentar às diferenças culturais e regionais de expressão oral. 

Como os biomarcadores de voz estão entrando agora no mercado norte-americano, fica difícil prever como será o comportamento das empresas de lá. E, mais ainda, como isso vai reverberar aqui no Brasil. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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