Se engana quem pensa que a camisa da seleção sempre foi amarela. O tradicional manto do Brasil só foi adotado depois de uma grande derrota e um verdadeiro trauma na história do futebol brasileiro.
Até a Copa do Mundo de 1950, a seleção jogava com uma camisa branca de gola pólo azul e um escudo da então CDB, a precursora da CBF (Conferência Brasileira de Futebol).
Esse foi o uniforme que a equipe brasileira, do então técnico Flávio Costa, usou quando perdeu para o Uruguai no episódio conhecido como Maracanazo.
O jogo, que terminou em 2 a 1 para os uruguaios, marcou a história dos Mundiais e abriu espaço para desgostos e superstições até a troca oficial da camisa branca para a amarela, em 1952.
Trauma no Maracanã
Em 16 de julho de 1950, o recém-inaugurado Maracanã reunia 173.850 torcedores pagantes. Mas a estimativa é que havia muito mais de 200 mil pessoas por lá, incluindo jornalistas, autoridades, convidados e pessoas que invadiram o estádio ao derrubar os portões. Não por acaso, essa partida é, até hoje, a de maior público da história das Copas do Mundo.
Além do superlotamento, a expectativa também era alta porque o Brasil levava vantagem na competição. No regulamento de 1950, a final era quadrangular – ou seja, se enfrentavam os quatro vencedores dos grupos da primeira fase.
Para a seleção brasileira, o otimismo estava lá no alto. A equipe já tinha vencido as primeiras “rodadas” com folga (uma goleada de 7 a 1 sobre a Suécia e outra de 6 a 1 sobre a Espanha). O Uruguai, por outro lado, tinha derrotado a Suécia por 3 a 2, mas empatou com a Espanha por 2 a 2.
Além disso, era o primeiro mundial no Brasil e os ânimos estavam à flor da pele. Quando os uruguaios ganharam o jogo – e a Copa -, não poderia haver desapontamento maior: era a primeira vez na história que os donos da casa chegavam à final, mas não levavam o título.
Recomeço em amarelo
A dor no coração ficou e muitos torcedores relacionaram a derrota à má sorte da camisa branca. Por causa disso, os dirigentes da então CDB aproveitaram a situação para colocar em prática um plano antigo: levar mais nacionalidade para o uniforme.
Em 1952, a Confederação de Futebol iniciou uma campanha com o jornal carioca Correio da Manhã para escolher qual seria o novo padrão das camisetas da Copa.
Os leitores poderiam mandar sugestões desde que obedecessem às regras de usar as quatro cores da bandeira (verde, amarelo, azul e branco). À época, a campanha foi um sucesso e reuniu mais de 300 participantes.
Mas o amarelo sugerido pelo jornalista e escritor gaúcho Aldyr Garcia Schlee, se destacou. À época com apenas 18 anos, o morador de Pelotas, no extremo sul do país, venceu o concurso ao sugerir uma camisa amarela com detalhes em verde, calção azul e meias brancas.
A torcida não demorou em aderir totalmente ao novo modelo. Com o passar dos anos, a camisa canarinho se transformou em um símbolo do futebol brasileiro e um manto histórico que mudaria para sempre a história do Brasil nas Copas do Mundo.
E, aparentemente, deu sorte mesmo: no Mundial de 1958, o Brasil foi campeão pela primeira vez. O mesmo aconteceu em 1962, 1970, 1994 e 2002. Novamente com a camisa amarela, o manto canarinho deve brilhar com a seleção nos campos outra vez em 2022 – agora o Hexa vem!