Copa do Mundo: conheça a conturbada história da taça Jules Rimet
A imagem do “capita” Carlos Alberto Torres levantando a taça, eternizando um movimento que seria repetido por outros capitães é tão icônica quanto o objeto em suas mãos. A taça Jules Rimet, vencida pelo Brasil três vezes — 1958, 1962 e 1970 — é um dos maiores símbolos dos Mundiais e protagonizou momentos inusitados desde o início das Copas.
A taça de ouro foi batizada em 1945, em homenagem ao terceiro presidente da Fifa, Jules Rimet, principal idealizador do torneio com seleções de todo o planeta. Ainda antes da realização da primeira Copa do Mundo, ficou definido que a taça seria entregue definitivamente para a primeira seleção que vencesse o torneio três vezes, algo considerado praticamente impossível na época.
Carlos Alberto ergue Jules Rimet depois da vitória de 4 a 1 sobre a Itália – Imagem: Reprodução
A primeira seleção a levantar a taça foi o Uruguai, vencedor da primeira Copa do Mundo em casa, em 1930. Na primeira edição do Mundial apenas treze seleções participaram do torneio, já que na época o deslocamento entre continentes era muito complicado, sendo realizado majoritariamente por transporte marítimo.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, cresceram os temores de que os nazistas tomassem posse da taça. Em 1939, essa foi a justificativa para o então vice-presidente da Fifa, Ottorino Barassi, em 1939, retirar secretamente a Jules Rimet do banco onde ficava armazenada e deixá-la dentro de uma caixa de sapato debaixo de sua cama.
Mas essa não foi a única polêmica envolvendo a icônica taça.
A seleção brasileira levantou o troféu pela primeira vez em 1958, quando liderada pelo jovem Pelé, então com 17 anos de idade, na Copa da Suécia o Brasil bateu a seleção anfitriã na final por 5 x 2. O feito foi repetido pelo Brasil novamente na Copa seguinte em 1962, no Chile.
O Mundial seguinte, em 1966, foi realizado na Inglaterra e a equipe anfitriã levou o caneco. Mas cerca de quatro meses antes da bola rolar no Mundial, a Jules Rimet, que então estava em exposição em Londres, simplesmente sumiu, mesmo com todo o forte esquema de segurança montado para evitar um possível roubo da taça.
Um homem identificado apenas como Jackson chegou a pedir um resgate pelo troféu. A polícia local montou um cerco e marcou um encontro com o homem, que foi preso e mais tarde identificado como Edward Betchley. O grande herói do caso foi um cãozinho chamado Pickles, que encontrou a taça embrulhada em jornais em um jardim de um bairro de Londres.
O cão faleceu um ano depois, mas se tornou uma estrela no Reino Unido, participou de programas de TV, filmes e chegou a ter um ano de ração grátis. Betchley negou ter roubado a taça e afirmou ser apenas um intermediário, mesmo assim passou dois anos preso antes de morrer.
Em 1970, o Brasil se tornou a primeira seleção tricampeã da Copa do Mundo e, como o regulamento da entidade máxima do futebol previa, passou a ser o proprietário definitivo da taça.
Em território brasileiro, a taça passou a ser exposta na sede da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, protegida por um vidro blindado. Um fato curioso era que, a taça original era mantida em exposição, enquanto uma réplica ficava armazenada em um cofre.
Em 19 de dezembro de 1983, o troféu foi roubado da sede da CBF, juntamente com outros que eram expostos no local. O roubo foi planejado por Sérgio Peralta, que na época era ligado ao Atlético-MG e conhecia bem o prédio onde ficava guardada, e executado por outros dois homens, Chico Barbudo e Luiz Bigode. Segundo as informações disponíveis sobre o caso, a dupla rendeu o vigia, levou a taça e entregou para um argentino vendedor de ouro.
A Jules Rimet nunca foi reencontrada e a hipótese mais provável é que a taça de ouro foi derretida. Todos os envolvidos no caso foram presos e até hoje, uma réplica da taça está na sede da CBF.