Ao que parece, a taxa de nascimento de gêmeos aumentou de forma alarmante nos últimos 40 anos em todo o mundo, conforme sugere uma nova pesquisa. Os autores do estudo dizem que para atingir este pico mais alto, deve-se considerar o uso de técnicas de reprodução medicamente assistida (RMA), como a fertilização in vitro, junto de gestações em idade materna avançada.
Outros estudos já mostraram uma crescente tendência de gestações gemelares ao longo do tempo, inclusive nos Estados Unidos. Entretanto, este novo estudo, publicado esta semana na revista Human Reproduction, é um dos primeiros a tentar descobrir como essa tendência se desenrolou em todo o mundo, de acordo com os autores. Por isso, eles coletaram dados de nascidos de 165 países (representando 99% da população mundial) de 2010 a 2015, junto com dados de 1980 a 1985 de 112 desses países selecionados.
Os resultados indicam que a taxa global de gêmeos aumentou em um terço desde a década de 1980: de 9,1 por cada 1.000 nascimentos para 12 por cada 1.000. Na América do Norte, a taxa subiu ainda mais, a ponto de 3,4% de todos os nascimentos entre 2010 e 2015 serem gêmeos. Em números brutos, somam cerca de 1,6 milhão de gêmeos nascidos atualmente em todo o mundo a cada ano. “O número absoluto e relativo de gêmeos no mundo como um todo está atingindo um pico em um nível sem precedentes”, escreveram os pesquisadores no estudo.
Não é nenhum segredo que a fertilização in vitro (FIV) pode aumentar as chances de nascimentos gêmeos ou múltiplos, uma vez que pacientes de FIV costumam receber vários embriões fertilizados para aumentar as chances de uma gravidez bem-sucedida. No entanto, os autores observam que outras técnicas destinadas a melhorar a fertilidade, como a estimulação ovariana ou a inseminação artificial, provavelmente também desempenham um papel importante. Em países de renda mais alta, como os EUA, as mulheres em geral têm filhos em idade mais avançada, e a idade é conhecida por ser um fator na gravidez natural de gêmeos.
Embora a taxa de nascimento de gêmeos tenha aumentado em todos os lugares entre os anos 1980 e agora, a América do Sul foi a única exceção a ver um pequeno declínio. Enquanto isso, as taxas na África permaneceram as mais altas e se mantiveram estáveis ao longo dos anos, sugerindo uma inclinação mais inerente para nascimentos de gêmeos na região, conforme visto no estudo.
“A taxa de gêmeos na África é muito alta por causa do grande número de gêmeos dizigóticos [nascidos de dois óvulos separados]. É mais provável que isso se deva a diferenças genéticas entre a população africana e outras populações”, disse o autor principal, Christiaan Monden, pesquisador da Universidade de Oxford, no Reino Unido, em um comunicado divulgado pela editora da revista, a European Society of Human Reproduction and Embryology.
Por mais encantadores que sejam os gêmeos, esses nascimentos são bem arriscados para a mãe e seus filhos. Na África, onde a taxa de mortalidade de recém-nascidos já é maior do que em outros lugares, muitas famílias, infelizmente, perdem um de seus filhos gêmeos durante a infância. Em países mais ricos, a taxa de sobrevivência é mais alta, mesmo que ainda existam riscos adicionais à saúde durante e após essas gestações.
Não está claro o que acontecerá com a taxa de geminação que continua avançando, embora os autores especulem que ela diminuirá gradualmente. As clínicas de fertilidade começaram a utilizar mais a transferência de um único embrião para fertilização in vitro e outras técnicas que devem reduzir as chances de uma gravidez gemelar.
Contudo, se os países da Ásia ou da África começarem a experimentar um declínio na fertilidade que leve ao maior uso da reprodução medicamente assistida, ou se as mulheres começarem a ter filhos em idades mais avançadas, isso poderia compensar qualquer declínio de gêmeos visto na América do Norte e na Europa. Por enquanto, os pesquisadores planejam ficar de olho nas tendências do início desta década de 2020.