Criação de polvos em cativeiro gera debate na ciência

A multinacional Nueva Pescanova planeja montar uma fazenda de polvos para a comercialização do animal - mas pesquisadores repudiam a ideia.
Fazenda de Polvos
Imagem: Pixabay/Reprodução

Cerca de 350 mil toneladas de polvos são capturadas todos os anos. Por conta disso, há grande interesse em criá-los em cativeiro para facilitar sua venda. Até então, isso não havia sido possível. Lidar com a alimentação dos polvos e também recriar exatamente o ambiente em que vivem, afinal, não é uma tarefa fácil. Mas a multinacional Nueva Pescanova defende que está pronta para mudar isso.

A empresa pretende investir € 50 milhões em uma fazenda destinada a produzir 3 mil toneladas de polvos por ano. O cultivo deve ser iniciado no próximo ano para que os animais comecem a ser vendidos em 2023. 

Métodos

De acordo com a empresa, os métodos de produção aplicados terão como base uma investigação do Instituto Oceanográfico Espanhol sobre os hábitos de procriação do polvo comum (Octopus vulgaris). A fazenda será instalada próxima ao porto de Las Palmas, nas Ilhas Canárias.

A BBC tentou entrar em contato com a Nueva Pescanova para saber detalhes do projeto, como o tamanho dos tanques e a comida que será oferecida aos animais. O jornal não obteve resposta.

O Debate

O anúncio sobre a primeira fazenda de polvos do mundo não foi recebido com entusiasmo por cientistas e conservacionistas. A Nueva Pescanova diz que pretende impedir que tantos polvos sejam retirados da natureza, mas a história é repleta de nuances.

Para começar, os povos são animais sencientes, capazes de sentir emoções — e até mesmo dor. Apesar disso, estes cefalópodes não estão assegurados pelas leis de bem-estar animal da União Europeia, que só se aplicam aos vertebrados (seres com espinha dorsal).

Não existe método cientificamente validado para que seja feito um abate humanitário do animal. Além disso, a falta de estimulação cognitiva que será enfrentada dentro dos tanques é negativa para o polvo. 

A ideia de poupar a natureza também é balela. Esses animais são carnívoros e precisam comer de duas a três vezes o seu próprio peso para sobreviver. Seria necessário seguir caçando peixes selvagens para transformá-los em ração de polvo, o que também impacta o ecossistema. 

Se criamos porcos, por que não criar polvos?

Os porcos também já se mostraram animais inteligentes, mas mesmo assim os humanos seguem transformando-os em alimento. Pesquisadores pedem que este exemplo seja visto como um caso que não deve se repetir.

No início da agropecuária, os animais de criação não eram tão compreendidos. Hoje, suas necessidades já são de conhecimento geral e é mais fácil melhorar a vida do animal mesmo dentro das fazendas. Com os polvos, os criadores começariam do zero, provavelmente proporcionando muito sofrimento ao animal antes de entendê-lo. 

Carolina Fioratti

Carolina Fioratti

Repórter responsável pela cobertura de saúde e ciência, com passagem pela Revista Superinteressante. Entusiasta de temas e pautas sociais, está sempre pronta para novas discussões.

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