Criador do corretor automático do iPhone explica por que o software te faz passar vergonha

Estamos tão acostumados com o corretor automático em nossos smartphones que raramente paramos para pensar no avanço que ele representou para a nossa comunicação, tornando-a mais fluida e, às vezes, nos livrando de situações embaraçosas ao corrigir erros ortográficos. Mas ele é igualmente capaz de criar situações vergonhosas ao trocar palavras e trazer significados completamente diferentes […]

Estamos tão acostumados com o corretor automático em nossos smartphones que raramente paramos para pensar no avanço que ele representou para a nossa comunicação, tornando-a mais fluida e, às vezes, nos livrando de situações embaraçosas ao corrigir erros ortográficos. Mas ele é igualmente capaz de criar situações vergonhosas ao trocar palavras e trazer significados completamente diferentes para nossas mensagens.

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O que poucos conhecem é a origem de tudo isso. Talvez todos saibam que a novidade surgiu pela Apple, no iPhone, e agora o inventor do corretor automático decidiu contar sua história. Ken Kocienda, que trabalhou por vários anos como desenvolvedor de software para a companhia da maçã, está lançando nesta terça-feira (4), nos Estados Unidos, seu livro Creative Selection: Inside Apple’s Design Process During the Golden Age of Steve Jobs.

O livro de Ken Kocienda (Imagem: Divulgação)

Como parte da divulgação de sua nova obra, Kocienda publicou um tuíte mostrando um teclado virtual bastante estranho, com três letras em cada tecla e um design no mínimo esquisito. “Descubra por que esse design não se tornou o teclado do primeiro iPhone”, escreve o desenvolvedor, em uma amostra do tipo de histórias de bastidores que revela em seu livro.

À revista Wired, Ken Kocienda trouxe mais detalhes do seu tempo na Apple, mais especificamente sobre o desenvolvimento do corretor automático, que virou em algum tempo regra em basicamente todos os celulares do mercado.

Kocienda dá a dimensão da importância da criação do teclado touchscreen com autocorreção. Sem ele, diz o desenvolvedor, a Apple não teria sido capaz de cumprir a visão de Steve Jobs de um “computador touchscreen inovador com o mínimo de botões fixos possível”. “O teclado tinha que sair do caminho quando não fosse necessário para que o restante dos apps no telefone pudessem brilhar”, escreve. Uma missão na qual o primeiro iPhone foi bem-sucedido.

Ken Kocienda começou a trabalhar com uma pequena equipe de engenheiros e designers da Apple no fim de 2005, com o objetivo de criar um sistema operacional touchscreen para o iPhone — que, na época, tinha o codinome Purple.

Ken Kocienda (Imagem: Divulgação)

Uma vez que uma tecnologia como o teclado com autocorretor vem à tona e se torna a regra, ela parece muito óbvia, mas sua origem esteve longe disso. “Nos primeiros dias de trabalho no Purple, o teclado era uma perspectiva assustadora, e nós nos referíamos a ele, muitas vezes de forma bastante nervosa, como um projeto científico”, conta Kocienda.

O código da autocorreção foi escrito com base em uma análise de palavras que usamos mais frequentemente, a periodicidade de algumas palavras em relação a outras e quais eram os erros que nós, humanos, mais cometemos em um teclado touchscreen. Mas o desafio não parou por aí. “Não foi fácil descobrir como o software poderia vir nos socorrer e quanto nossos algoritmos deveriam ser permitidos a fazer sugestões ou intervir para corrigir erros de digitação”, explica o desenvolvedor.

Mais de dez anos depois do lançamento do primeiro iPhone, o autocorretor evoluiu bastante, sem dúvidas. Mas Kocienda acredita que o problema central segue o mesmo: softwares não são capazes de entender as nuances da comunicação humana. “Estou ciente de que o estilo de correção automática de teclado (do iPhone) tem seus limites. Todo mundo tem histórias sobre a autocorreção dando errado, mas, quanto mais engraçados esses contos são, mais apócrifos eles costumam ser.”

Com isso em mente, o desenvolvedor que nos deu o autocorretor projeta o que será necessário no futuro e quais devem ser os principais pontos de discussão à medida que a tecnologia avança.

“Para softwares de autocorreção fazerem melhores escolhas sobre o que corrigir e como, os sistemas precisariam saber mais sobre o que queremos dizer. Mas queremos que softwares sejam capazes de intervir mais do que já fazem hoje? Quanta arbitragem e reescrita os softwares deveriam ser permitidos fazer?”, questiona Kocienda. Uma preocupação legítima, especialmente quando se leva em consideração as sobrancelhas que o Google fez levantar ao anunciar em sua conferência de desenvolvedores, Google I/O, em maio deste ano, um recurso de autocompletar tão impressionante quanto assustador para o Gmail capaz de escrever seus e-mails por você.

Por mais honrado que se sinta de ter trazido o corretor automático para nossas vidas, Ken Kocienda diz não estar igualmente orgulhoso de dar ao mundo uma nova forma de humor escrachado. Independentemente disso, a gente se diverte.

Creative Selection: Inside Apple’s Design Process During the Golden Age of Steve Jobs está à venda para Kindle na Amazon por R$ 50,54, com o arquivo chegando ao seu leitor eletrônico nesta quinta-feira (6). A versão em capa dura sai por R$ 120,56, sob encomenda.

[Wired]

Imagem do topo: Gizmodo Brasil

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