Um crocodilo fêmea colocou ovos sem nunca ter contato com machos e provou pela primeira vez que a partenogênese, ou “nascimento virginal”, é possível entre esses répteis. O fato chamou a atenção porque o animal está isolado há 16 anos no Parque Reptilandia, na Costa Rica.
O réptil pôs 14 ovos, sendo sete férteis. Depois de três meses de incubação, nenhum deles vingou. A equipe científica do parque, então, abriu os ovos e descobriu que seis deles estavam cheios de um conteúdo irreconhecível, provavelmente uma mistura de células não desenvolvidas. Pelo menos um tinha um feto totalmente formado, mas sem vida.
Ao sequenciar o genoma dos ovos, os biólogos descobriram que o feto tinha 99,9% de correspondência com o DNA da mãe. Isso confirma que o ovo não teve pai e resultou de uma reprodução assexuada.
Mas, mesmo sem macho, o feto de crocodilo não era um “clone” da genitora. Os cientistas averiguaram que, como em todos os casos de partenogênese de vertebrados, o embrião se formou quando o óvulo se fundiu com um de seus próprios subprodutos – ou “segundo corpo polar”. Na prática, isso significa que ele possuía duas cópias do DNA da mãe.
Isso não influenciou no sexo do feto, visto que o que define o gênero dos crocodilos é a temperatura externa do ovo. Neste caso, o feto era fêmea pois a temperatura de incubação era de 29,5ºC, ideal para essa formação.
Agora, a descoberta de que crocodilos também podem reproduzir via partenogênese sugere que esses animais podem remontar a um ancestral comum com os pássaros que viveram há pelo menos 267 milhões de anos. E, talvez, que dinossauros e pterossauros também fossem capazes de se reproduzir sem machos.
Outros animais se reproduzem sem machos
Os cientistas já sabem que a partenogênese ocorre em algumas espécies de cobras (como jiboias e pítons), lagartos, pássaros e peixes. O motivo, porém, permanece incerto.
Por algum tempo, houve a hipótese de que o fenômeno acontece por falta de machos. Mais tarde, isso não se mostrou verdadeiro, visto que o nascimento virginal ocorria mesmo quando havia muitos machos disponíveis.
“Acreditamos que isso é controlado por um único gene, que pode ser acionado por hormônios ou algo do tipo”, disse Warren Booth, que liderou autor o estudo que relatou o caso do crocodilo na Costa Rica, ao site IFLScience. Segundo ele, mais pesquisas são necessárias para esclarecer o que acontece nesses casos.
Booth também explica que a morte prematura dos fetos, como ocorreu no caso da crocodilo, não é uma regra. Filhotes que nascem pela reprodução assexuada podem viver até a vida adulta e não necessariamente se reproduzirão sozinhos.
Os mamíferos, porém, não podem se reproduzir desta forma. Isso porque, diferente dos répteis, peixes e pássaros, a formação do embrião requer impressão genômica – ou seja, os genes específicos do pai e da mãe.