A sonda Curiosity da NASA detectou uma variação sazonal inesperada no oxigênio de Marte, de acordo com uma nova pesquisa.
A Curiosity tem enviado resultados curiosos há algum tempo. Depois de localizar metano no planeta, estudos da cratera Gale encontraram mudanças regulares no gás que são inexplicáveis a partir dos fatores ambientes conhecidos até agora pelos cientistas. Desta vez, uma variação no oxigênio juntou-se aos mistérios marcianos.
O oxigênio tem mostrado “variabilidade sazonal e interanual significativa, sugerindo um processo atmosférico ou superficial desconhecido em andamento”, escreveram os autores em um artigo publicado nesta terça-feira (12) no Journal of Geophysical Research.
Marte, assim como a Terra, tem uma inclinação no seu eixo de rotação. Isso significa que seus hemisférios norte e sul possuem estações similares a da Terra – verão quando o hemisfério aponta para o Sol e inverno quando está do lado oposto.
Os cientistas têm usado o instrumento de Análise de Amostras em Marte (SAM, na sigla em inglês) da Curiosity para monitorar a abundância de várias moléculas na atmosfera do planeta e como elas mudam de acordo com as estações do ano.
Nessa pesquisa, foram divulgados dados recolhidos em cinco anos terrestres (o equivalente a três anos em Marte).
Os resultados para alguns elementos não foram especialmente surpreendentes: os níveis e mudanças na quantidade de gás argônio foram muito semelhantes às medições feitas pela já extinta sonda Opportunity, por exemplo.
A Curiosity também não identificou muita circulação de nitrogênio – na Terra, a vida interage com a atmosfera e o solo por meio de um complexo ciclo que envolve o nitrogênio. Se tal ciclo existe em Marte, ele não tem impacto no gás atmosférico do planeta, de acordo com os autores.
Porém, existe a questão do oxigênio. “As medidas do SAM [de oxigênio] na cratera Gale não mostram estabilidade anual ou padrões sazonais que seriam previstos com base nas fontes e dissipadores conhecidos na atmosferas”, escreveram os autores.
Havia muito mais oxigênio do que o esperado durante a primavera e o verão do hemisfério norte marciano (entre o final do outono e o começo inverno para a Curiosity), e muito menos oxigênio do que o esperado durante o inverno do hemisfério norte (o verão para a Curiosity).
Os cientistas tentaram arranjar uma explicação para isso. Talvez o instrumento estivesse quebrado (não estava), ou talvez o oxigênio fosse de dióxido de carbono ou água dissolvendo na atmosfera. Mas isso poderia significar que há muito mais água do que o planeta já possui em sua atmosfera, ou que o dióxido de carbono se quebra muito lentamente para produzir as assinaturas de oxigênio, de acordo com um comunicado da NASA.
“O fato de o comportamento do oxigênio não ser perfeitamente reproduzido em todas as estações nos faz pensar que não se trata de uma questão que tenha a ver com a dinâmica atmosférica. Tem que ser alguma fonte química e dissipador que ainda não podemos explicar”, disse a autora principal do estudo e cientista planetária do Goddard Space Flight Center da NASA, Melissa Trainer, em um comunicado.
Talvez a variação do oxigênio tenha a ver com a variação do metano. Trainer espera que outros cientistas ajudem a descobrir o mistério.