Adiar medidas de combate à crise climática pode custar trilhões
Nenhum motivo justifica a demora para enfrentar a crise climática. Nem mesmo o dinheiro. Um novo relatório dá mais provas de que, quanto mais esperarmos, maior será o custo.
A empresa de pesquisa de políticas Energy Innovation publicou nesta quarta-feira (3) uma análise em que examina dois cenários para zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050. Essa é uma meta definida pelo governo Biden e vários outros países, com base no conselho de cientistas do clima da Organização das Nações Unidas, para evitar níveis perigosos de aquecimento. Em um cenário simulado com um modelo, os EUA começam esforços agressivos para descarbonizar sua economia agora. No outro, as autoridades esperam até 2030 para começar.
A diferença financeira pode ser enorme. A análise mostra que começar a descarbonizar agora custaria US$ 320 bilhões por ano, ou um total de US$ 4,5 trilhões. Se o governo esperar até 2030, porém, os custos para zerar até 2050 seriam de US$ 750 bilhões a cada ano, ou cerca de US$ 8 trilhões em 2050. Ou seja, é melhor dar o pontapé inicial agora e evitar um custo 72% maior.
“Para cumprir as metas climáticas, é imperativo começar a ação climática hoje”, disse Megan Mahajan, uma das coautoras e analista sênior de política da equipe de Soluções de Política Energética, por e-mail. “Em particular, uma transição rápida para veículos elétricos e componentes de construção é urgente, porque os equipamentos poluentes vendidos hoje irão durar décadas. E a transição para fontes limpas de eletricidade o mais rápido possível torna-se ainda mais importante, pois os veículos e edifícios dependem cada vez mais de eletricidade em vez de combustíveis fósseis.”
Os autores usaram o Simulador de Política de Energia de código aberto da Energy Innovation, um modelo revisado por pares que estima os impactos das políticas climáticas e de energia. No cenário de 2021, as políticas que os autores inseriram incluem um padrão de energia limpa que atinge 90% em 2035 e 100% em 2050, padrões de veículos 100% elétricos para automóveis leves até 2035 e de carga até 2045, e melhorias de eficiência em construções variando de 11% a 40% até 2050.
O cenário de 2030, diz o estudo, “requer necessariamente reduções de emissões mais acentuadas para alcançar a mesma redução cumulativa”. Isso porque, se os EUA continuarem emitindo gases de efeito estufa, ações mais urgentes serão necessárias para evitar o aquecimento extremo. Esperar uma década, por exemplo, significaria ter que fazer a transição para energia 100% limpa até 2040 em vez de 2050 devido à poluição que se acumulou na atmosfera ao longo da década de 2020. Também exigiria a construção de nove vezes mais capacidade de energia limpa por ano até meados da década de 2030.
A procrastinação também levará à necessidade de desenvolver tecnologia para capturar carbono diretamente do ar, que é extremamente cara e atualmente não tem comprovação de funcionamento em larga escala. Se as autoridades continuarem a permitir a construção de usinas movidas a óleo e gás, o cenário de 2030 também criará mais custos devido aos ativos encalhados e à necessidade de desligar mais equipamentos antes do final de sua vida útil prevista.
“A transição acelerada criará um choque econômico global”, dizem os autores.
O relatório nem mesmo aborda os custos associados a condições meteorológicas extremas, que podem piorar ainda mais se medidas mais drásticas atrasarem. Um relatório recente descobriu que, no ano passado, os EUA viram um recorde de 22 desastres que custaram US$ 1 bilhão ou mais. Esse número certamente aumentará à medida que a crise climática piorar.
Os resultados, que seguem outros relatórios científicos sobre o custo de atrasar a ação climática, trazem uma mensagem clara para os formuladores de políticas. Entre construir novas fontes de energia, desligar usinas velhas, descarbonizar o setor habitacional e abandonar os carros movidos a combustíveis fósseis, os EUA precisarão gastar bilhões. Mas tudo isso precisa começar agora.
“A conclusão é que a próxima década é crítica”, escrevem os autores.