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Degelo na Antártica pode elevar o nível do mar 30% a mais do que cientistas esperavam

Cientistas dizem que as coisas podem ser ainda piores já no final deste século, quando o nível do mar deve aumentar 20% que o previsto.

Imagem: Jeremy Harbeck (AP)

Imagem: Jeremy Harbeck (AP)

Uma nova pesquisa publicada na Science Advances, na última sexta-feira (30), diz que o colapso total de um manto de gelo crucial na Antártica pode significar que o nível do mar subiria 30% a mais do que os cientistas preveem atualmente. Além disso, as previsões apontam que, até o final deste século, o aumento do nível do mar pode ser 20% maior do que o esperado.

O estudo fala sobre como o derretimento na camada de gelo da Antártica Ocidental vai afetar a crosta terrestre. As previsões atuais dizem que isso vai propiciar um aumento do nível do mar em 3,3 metros se derreter totalmente nos próximos mil anos. No entanto, de acordo com observações desse estudo recente, os cientistas já trabalham com a hipótese dessa quantidade aumentar em 1 metro, totalizando 4,3 metros.

“Todas as projeções publicadas do aumento do nível do mar devido ao derretimento da camada de gelo da Antártica Ocidental que foram baseadas em modelos climáticos terão que ser revisadas para cima”, disse Jerry Mitrovica, geofísico da Universidade de Harvard e autor do estudo, em comunicado à imprensa.

A rocha que sustenta grande parte do manto de gelo da Antártica Ocidental fica abaixo do nível do mar, o que significa que é especialmente sensível às correntes oceânicas quentes. No entanto, ainda não se sabe como essa água pode cavar sob o gelo.

“A mudança futura no manto de gelo da Antártica Ocidental é a maior incerteza nas previsões de aumento do nível do mar”, escreveu por e-mail Robert Larter, geofísico marinho do British Antarctic Survey, que não esteve envolvido no estudo. “Outras contribuições para essa mudança — expansão térmica do oceano, derretimento de geleiras de montanhas e calotas polares, e perda de gelo da Groenlândia — podem ser estimadas com menos incerteza. A dificuldade em prever mudanças futuras é que a maior parte de seu leito fica abaixo do nível do mar.”

Os cientistas acreditam que as correntes oceânicas quentes estão tornando o leito subaquático da camada de gelo cada vez mais instável. Essa instabilidade pode criar um ciclo à medida que a parte superior da placa começa a derreter, criando o que Larter chamou de “ponto sem retorno” para a placa de gelo. “Na história da ciência moderna, nunca fomos capazes de observar um recuo do manto de gelo marinho. Por isso, não temos bons dados de observação para determinar quão fortes são os feedbacks e quão rápido o recuo pode ocorrer”, completou.

Um grande fator em como esse colapso pode nos impactar é a crosta terrestre sob as próprias camadas de gelo. Conforme o manto de gelo derrete e o peso do gelo diminui, o leito rochoso vai se erguer repentinamente. No caso do manto de gelo da Antártica Ocidental, como sua base está abaixo do nível do mar, a crosta que sobe ocupará mais espaço no oceano.

“Isso reduzirá a quantidade de espaço de acomodação para a água, aumentando ainda mais o aumento do nível do mar em escalas de tempo de milhares de anos”, explicou Bethan Davies, pesquisadora de geleiras da Universidade Royal Holloway de Londres, e que também não esteve envolvida no estudo mais recente.

É nessa relação que a pesquisa específica se restringe: o quanto a rocha, e não o gelo derretido em si, poderia fazer o nível do mar subir. O leito rochoso sob a camada de gelo é um tipo de manto de baixa viscosidade que “se recupera rapidamente” à medida que o gelo derrete. Os autores do estudo escreveram que trabalhos anteriores haviam estimado que esse efeito de base rochosa “é pequeno e ocorre lentamente”. Por outro lado, isso pode ter uma contribuição substancial para como o nível do mar é afetado pelo derretimento dessa camada de gelo.

Larter especulou que o grande aumento encontrado pelo estudo em comparação com as estimativas anteriores de aumento do nível do mar poderia significar que cientistas de várias disciplinas estão finalmente conversando entre si.

“Este resultado surge da modelagem integrada das camadas de gelo e da Terra sólida, áreas de estudo que têm sido tradicionalmente domínios separados de glaciologistas e geólogos”, disse. “Nas últimas duas décadas, os cientistas perceberam cada vez mais que, para resolver muitas questões importantes da ciência ambiental, precisamos trabalhar em várias disciplinas, e um exemplo particular disso é a compreensão de que as características e a resposta da Terra sólida sob mantos de gelo são muito importantes para prever como eles vão mudar”, completou.

Embora os cientistas tenham construído modelos cada vez mais confiáveis para estudar o que pode acontecer às geleiras e ao gelo, este estudo mostra o quanto mais há para aprender sobre o que nos espera agora que o planeta continua ficando mais quente. E, certamente, não estamos em uma boa posição, pois as coisas tendem a piorar nos próximos séculos.

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