Estudo de dentes pré-históricos é mais uma indicação da nossa herança neandertal
Pesquisadores do Reino Unido decidiram analisar 13 dentes, que acreditava-se pertencer a neandertais, encontrados entre 1910 e 1911 na caverna La Cotte de St. Brelade, na ilha de Jersey, no Canal da Mancha. A nova análise, no entanto, sugere que as características dos dentes não são exclusivamente de neandertais, mas de humanos modernos também.
A descoberta pode ser uma das evidências diretas mais fortes do cruzamento entre Homo sapiens e neandertais, conforme explicou Chris Stringer, autor do estudo e professor do Museu de História Natural de Londres, à CNN.
Os neandertais surgiram há cerca de 400 mil anos, tendo habitado regiões da Europa e da Ásia. Quando eles desapareceram, o Homo sapiens estava começando a se estabelecer na Europa. Ainda assim, as duas espécies conviveram por, no mínimo, 5 mil anos. A análise dos dentes é mais uma prova de que, durante esse período, elas se relacionaram e tiveram filhos.
Um dos recursos que auxiliou a nova descoberta foi a tomografia computacional, que permitiu aos pesquisadores analisar detalhes a um nível que era impossível no passado, quando foi feita a escavação.
De acordo com o novo estudo, publicado no Journal of Human Evolution, a estimativa é que os dentes tenham 48 mil anos, o que corresponde ao período em que os neandertais estavam começando a ser extintos. Isso levanta um outro questionamento em relação ao desaparecimento dessa espécie.
Em entrevista à BBC, Matt Pope, coautor do estudo e pesquisador do Instituto de Arqueologia da University College London (UCL), disse que pesquisas sobre esse cruzamento com os Homo sapiens podem ajudar a investigar se os neandertais foram realmente extintos ou se eles apenas se “fundiram” aos humanos modernos, criando uma população híbrida.
Os dentes encontrados em Jersey não são a única evidência do cruzamento entre espécies. Em 2018, por exemplo, escavações na Rússia revelaram um fragmento de osso, com idade aproximada de 50 mil anos, que representou os primeiros restos encontrados de uma criança cuja mãe era neandertal e o pai, denisovano — outra espécie extinta que viveu predominantemente na Ásia.