Quando me preocupo com a Floresta Amazônica, normalmente me preocupo com o desmatamento. Talvez eu devesse começar a me preocupar com as mudanças climáticas também. Um novo estudo divulgado na segunda-feira (25) mostra que mudança climática mais desmatamento é igual a desastre para a Amazônia: o número médio de espécies de árvores presentes em um trecho da floresta tropical pode cair até 58% até 2050. Além disso, toda a destruição induzida pelo homem pode acabar efetivamente dividindo a Amazônia em duas florestas separadas, uma das quais seria “severamente fragmentada”.
Publicado na revista Nature Climate Change, o estudo nos lembra como a maior floresta tropical do mundo é frágil. Desde 1970, ela perdeu quase 20% de sua cobertura de árvores, segundo Mongabay. No mês passado, a Amazônia brasileira registrou um aumento nas taxas de desmatamento. E enquanto o desmatamento é obviamente destrutivo, a mudança climática está piorando as coisas ao aumentar as temperaturas e secar a floresta tropical, tornando algumas áreas impróprias para as espécies que a chamam de lar.
“Os impactos do desmatamento são locais. Podemos ver claramente a área que estamos impactando”, disse o autor Vitor Gomes, cientista ambiental da Universidade Federal do Pará no Brasil, ao Gizmodo. “A mudança climática pode afetar toda a área. O clima mudará em toda a área florestal”.
Os autores do Brasil e Holanda modelaram como aproximadamente 5.000 espécies de árvores amazônicas – cerca de um quarto do total de espécies na floresta, mas as únicas com dados suficientes para estudar – reagiriam a uma série de cenários de mudanças climáticas classificados de melhor a pior, juntamente com alguns cenários de desmatamento baseados em taxas históricas. No pior dos casos em que continuamos com as emissões de carbono e o desmatamento, quase metade das espécies de árvores amazônicas pode ser considerada ameaçada até 2050 pela União Internacional para a Conservação da Natureza, segundo o estudo.
A Amazônia é vasta, porém, e diferentes regiões sofrerão diferentes níveis de mudança sob o modelo que a equipe usou. As porções sudoeste, sul e leste da Amazônia sentirão os efeitos associados da mudança climática e do desmatamento mais drasticamente. Em 2050, a região leste da Amazônia, por exemplo, pode perder 95% de sua floresta.
Na pior das hipóteses, os modelos mostram a divisão da Amazônia pela metade até 2050. Uma parte ficaria com pouco mais da metade de sua área original a noroeste; a outra porção a sudeste ficaria seriamente destruída e incapaz de suportar tantas espécies de árvores quanto a vizinha ao norte. A seção norte teria quase o dobro do número de espécies de árvores em cada 4 milhas quadradas comparado com seu vizinho mais exaurido ao sul.
“Para a biodiversidade, isso pode ser terrível”, disse Gomes ao Gizmodo.
Em última análise, este estudo não é apenas sobre as árvores. É sobre a saúde de um ecossistema que abriga pelo menos 10% da biodiversidade mundial conhecida. É sobre animais e, bem, as pessoas que dependem de tudo isso funcionando corretamente. Os níveis de perda de diversidade de árvores projetados neste estudo prejudicam definitivamente a vida selvagem que depende dessas árvores para habitat ou alimento. Isso, por sua vez, prejudicaria a capacidade dos povos indígenas locais de sobreviver na floresta.
Nós não temos que perder tudo, no entanto. Os autores sugerem a criação de áreas mais protegidas, que em seus modelos tiveram maior biodiversidade do que as áreas não protegidas. A Amazônia merece todas as soluções que pudermos imaginar.