Dezenas de saguis morreram de herpes no interior de SP. E a culpa é dos humanos
Um surto do vírus HSV em saguis está preocupando biólogos e especialistas em conservação do interior de São Paulo. O micro-organismo é causador da herpes, doença praticamente inofensiva que acomete cerca de 90% dos humanos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Apesar de causar no Homo sapiens apenas infecções esporádicas e irritações, para alguns primatas ela pode ser fatal. E é aí que mora o problema.
As transmissões estão acontecendo quando os animais buscam comida — normalmente resto de frutas infectadas — no lixo da cidade. Ou, na maioria das vezes, quando os humanos mordem um pedaço do alimento e entregam aos saguis.
Não foi divulgado o total exato de animais mortos pela doença. O número, no entanto, passa das dezenas, segundo o relato de pesquisadores da região.
Vinícius Sementili Cardoso, biólogo do Jardim Botânico de Bauru, disse em entrevista ao Jornal da Cidade (JCNET) que o mito de que os macacos têm uma dieta à base de frutas, bananas em especial, contribui para que as pessoas continuem a alimentá-los.
O especialista explicou que a morte dos saguis acontece muito rápido. “Surgem primeiro as feridas na mucosa do rosto, o animal fica debilitado e morre”, disse. Cardoso ainda pontua que, além do contágio pelos alimentos, um macaco pode transmitir para o outro. No final, nenhum deles sobrevive.
As mortes dos primatas não aconteceram só em Bauru. No final do ano passado, Cuiabá também viu 16 saguis morrendo por conta da infecção causada pelo vírus da herpes.
O hábito (errado) de alimentar macacos
Cardoso disse à publicação que os filmes e desenhos animados como responsáveis por disseminar, ao longo de anos, o mito de que macacos são fãs irrestritos de bananas. Contudo, ele destaca que não há dados científicos que primatas busquem banana como alimento.
Se macacos não comem banana, o que, de fato, eles comem? A dieta dos saguis, por exemplo, pode envolver desde insetos a lagartixas. Sua preferência, no entanto, é a resina encontrada nas árvores.
“É importante que a população não tenha ‘dó’ deles, achando que estão com fome porque não estão. Essa ideia é falsa”, diz o biólogo. “As frutas que são ofertadas para eles têm teor calórico muito alto.”
A própria Sociedade Brasileira de Primatologia criou a campanha ‘Macaco não é Pet’, que tem por objetivo orientar as pessoas quanto aos perigos da proximidade excessiva com os primatas.
[JCNET]