Dispositivo em balão detecta terremotos na Terra (e, quem sabe, em Vênus)
Um barômetro instalado em balão transparente conseguiu identificar um terremoto enquanto flutuava sobre o Oceano Pacífico. Agora, a meta é mais ousada. A expectativa é que essa tecnologia sirva também para desbravar outros planetas, como o nosso vizinho Vênus.
Ao todo, quatro balões registraram as ondas sonoras do terremoto durante uma experiência sobre os mares da Malásia, em dezembro de 2021.
O barômetro –instrumento mais usado para medir a pressão atmosférica– captou flutuações repentinas e bruscas na pressão do ar por apenas 11 segundos. Tratava-se de um terremoto a mais de 2.800 quilômetros de distância.
O registro fez com que os balões se tornassem a 1ª rede de dispositivos a monitorar um terremoto no ar. O experimento foi documentado em julho pela AGU Advances, revista sobre ciências da Terra e do Espaço.
Agora, a descoberta deve abrir caminho para o rastreio de terremotos em áreas remotas da Terra –e também em planetas vizinhos. No caso de Vênus, o método é um bom início para verificar sua geologia, até hoje misteriosa aos humanos.
“Não sabemos porque a Terra e Vênus são tão diferentes. É por isso que precisamos de medições”, disse David Mimoun, cientista planetário da Universidade de Toulouse, na França, ao site Science News. E desbravar o interior venusiano é mais fácil através da análise de seus tremores.
O “único” empecilho é a atmosfera densa de Vênus –ou seja, o ar do planeta vizinho tem quase a mesma pressão que o oceano profundo da Terra. Não bastasse isso, a temperatura média por lá gira em torno dos 450ºC, calor suficiente para derreter chumbo, quem dirá um balão.
Quão longe já fomos
Algumas sondas já chegaram à superfície de Vênus, mas duraram pouco para contar a história. Em 1961, a União Soviética lançou o programa Venera, com diversas naves para desbravar o astro. Mas foi só em 1975 que a missão Venera 9 –uma nave de 5 toneladas– tirou as primeiras fotos do planeta. A estrutura não durou muito: desmoronou com o calor em menos de uma hora por lá.
Apesar de parecer loucura depois da experiência de Venera, cientistas voltaram a enviar satélites para saber mais sobre Vênus em 2005. Agora, porém, os balões que detectam terremotos parecem ser a melhor solução. Segundo Mimoun, o desafio é projetar dispositivos pequenos o suficiente para serem transportados por balões, e sensíveis o bastante para detectar terremotos.
O balão deve ser um agente importante para esclarecer porque a Terra e Vênus, que têm praticamente o mesmo tamanho e distância do Sol – seguiram caminhos tão diferentes.
Se sobreviverem à pressão atmosférica e calor do planeta, seria um grande avanço desde a Guerra Fria, quando os balões começaram a ser usados para os EUA espionarem possíveis armas nucleares soviéticas.