DNA de elefantes pré-históricos indica que eles se transformaram em anões na ilha da Sicília
Dezenas de milhares de anos atrás, os chamados elefantes anões habitavam a ilha da Sicília, na costa da Itália. Aparentemente, não demorou muito para que esses animais ficassem menores após a chegada à ilha. Uma nova pesquisa publicada na semana passada na Current Biology sugere que os gigantes de 10 toneladas ficaram pequenininhos rapidamente, perdendo até 180 quilos em média a cada geração.
Estudar ilhas há tempos dá aos cientistas, incluindo Charles Darwin, novos pensamentos importantes sobre como a evolução funciona — esse fenômeno também deu aos criadores do Pokémon um conceito bacana para um par de jogos. As ilhas são conhecidas por darem origem a populações isoladas que se parecem e se comportam de maneira diferente de seus primos não-insulares.
Um exemplo dessa divergência está nas ilhas mediterrâneas aninhadas entre a Europa, Ásia e África, onde elefantes anões perambulavam na era pré-histórica. Muitas espécies distintas desses minúsculos titãs existiram ao longo do tempo, e alguns podem ter sido extintos há cerca de 10 mil anos. Quanto ao tamanho desses caras, acredita-se que eles tinham cerca de 90 cm a 2 m de altura e pesavam entre 181 kg e até pouco mais de uma tonelada. Para efeito de comparação, os elefantes de hoje na Ásia e na África variam de 2 a 4 m de altura e entre 2 a 7 toneladas, dependendo da espécie e do gênero.
De acordo com a pesquisa, no entanto, é provável que pelo menos uma espécie de elefante anão da Sicília tenha perdido rapidamente seu corpo robusto logo depois que seus ancestrais começaram a viver lá, provavelmente por causa da limitação de comida na ilha.
A equipe de pesquisadores, sediada no Reino Unido, Alemanha, Islândia e Itália, estudou 11 amostras de elefantes antigos coletados na ilha. Graças a uma amostra coletada na caverna Puntali da Sicília, eles foram capazes de reconstruir o DNA mitocondrial — o pedaço de DNA que é passado pela mãe — de um elefante anão. Essa reconstrução é ainda mais notável porque o clima quente tende a degradar DNA antigo, e outras linhas de evidência permitiram que eles estimassem aproximadamente quanto tempo levou para que os elefantes encolhessem.
Os autores disseram que o elefante fazia parte de um gênero extinto chamado Palaeoloxodon e existiu em algum lugar entre 175,5 mil e 50 mil anos atrás. Seu provável ancestral direto foi o elefante de presas retas (Palaeoloxodon antiquus), que tinha 3,6 metros de altura e pesava cerca de 10 toneladas quando adulto.
Em algum momento, cerca de 200 mil anos atrás, a equipe acredita que linhagem se dividiu e rapidamente (no tempo evolutivo) perdeu muito peso. Eles estimam que os elefantes antigos perderam cerca de 200 kg e 4 cm por geração, a ponto de se tornarem quase um décimo do tamanho de seu ancestral, com cerca de 2 m de altura e 1,7 toneladas. Para colocar em termos mais familiares, dizem os autores, seria como se os humanos modernos se tornassem do tamanho de macacos rhesus, que têm 25 centímetros de altura e apenas 11 quilos.
“A magnitude do nanismo causado por esse rápido processo evolutivo é realmente impressionante, resultando em uma perda de massa corporal de quase 85% em um dos maiores mamíferos terrestres de todos os tempos”, disse o autor do estudo, Axel Barlow, especialista em paleogenômica e biociência molecular em Nottingham Trent University, no Reino Unido, em comunicado da universidade. “Como descendentes de gigantes, os extintos elefantes anões estão entre os exemplos mais intrigantes na evolução nas ilhas.”
Outra pesquisa sugeriu que o nanismo nas ilhas pode muitas estar ligado à escassez relativa de alimentos, fato que os pesquisadores concordam ser provavelmente responsável pelo que aconteceu em Sicília. E eles esperam que suas técnicas usadas para reconstruir o DNA antigo neste estudo possam ajudar outros a mergulharem na jornada evolutiva desses pequenos elefantes e mais animais antigos que viveram em climas quentes. Quanto aos elefantes anões incluídos neste estudo, seus restos mortais estão agora armazenados no Museu Gemmellaro da Universidade de Palermo, na Itália.