_Ciência

“DNA Lixo” pode ser a chave para entender doenças desafiadoras

Segundo estudo internacional que envolveu cientistas brasileiros, o RNA que não codifica proteínas e que é pouco estudado fornece informações completas sobre como doenças funcionam

“DNA Lixo” pode ser a chave para entender doenças desafiadoras

Aproximadamente 97% do genoma humano é feito de RNAs não codificantes. De modo geral, eles são parte do material genético humano, mas não produzem proteínas, que são peça chave para a expressão dos genes.

Por este motivo, eles são menos estudados que aqueles RNAs que codificam proteínas. Contudo, os ncRNAs ainda exercem papéis importantes, como o de regular processos biológicos mesmo não estando diretamente envolvidos neles.

Recentemente, pesquisadores passaram a associar cada vez mais o desenvolvimento de algumas doenças com os RNAs não codificantes. Agora, um estudo sugere que a incorporação desse elemento em análises de genoma pode contribuir para o entendimento de diversas condições de saúde.

Os resultados foram publicados em artigo na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. A pesquisa envolveu a colaboração de cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Northeastern University, nos Estados Unidos.

Entenda a pesquisa

Atualmente, existe um conceito de pesquisa chamado medicina em rede. Ele consiste considerar que as doenças não são causadas por falhas em um único gene, mas que elas são a consequência de uma série de interações biológicas.  

Para isso, é preciso reunir diversos conjuntos de dados — especialmente genéticos — para compreender melhor como as doenças funcionam. Assim, a ideia é que a medicina em rede possa avaliar como uma condição de saúde avança, retrocede ou quais são os melhores tratamentos para ela.

De acordo com os autores do novo estudo, outro aspecto chave da medicina de rede é o entendimento de como as doenças se relacionam, agravando ou gerando outras enfermidades. E neste quesito, o RNA não codificante é essencial.

Para testar a importância do ncRNA para a medicina em rede, os pesquisadores criaram dois sistemas computacionais. Em um, havia o foco de estudo apenas no RNA codificante. Já no outro, havia também a presença de dados a respeito do RNA não codificante.

Eles realizaram testes com dados de cerca de 800 doenças, mas utilizaram apenas três delas no artigo: a artrite reumatóide, a doença de Crohn e a pré-eclâmpsia.

Dessa forma, comparando ambos os sistemas, os pesquisadores notaram que a análise do módulo que abrange também o ncRNA foi capaz de aumentar substancialmente o entendimento sobre cada doença.

“Quando não incluímos os ncRNAs para identificar os módulos das doenças perdemos muita informação”, afirma Deisy Gysi, autora do estudo, à UFPR. De modo geral, esses dados trouxeram informações aprimoradas na análise da artrite reumatóide.

Já no estudo da pré-eclâmpsia, a falta de dados sobre os ncRNAs fazia com que pouco se soubesse sobre a biologia da doença. Por exemplo, sobre como ela se manifesta e quais outras condições se relacionam com ela.

Sair da versão mobile