Duas línguas do Tupi Guarani são faladas por apenas 100 pessoas, mostra estudo
Pouco se sabe sobre a história completa da família linguística Tupi Guarani, mas um grupo de estudos da Universidade de Tübingen, na Alemanha, desenvolveu um algoritmo de biologia molecular para mudar isso.
Os pesquisadores investigam como esses vocabulários se originaram e, mais tarde, se espalharam entre povos distribuídos em mais de 4.000 quilômetros de distância.
O Tupi Guarani inclui cerca de 50 idiomas falados até hoje. Pelo menos nove estão extintos. Menos de 100 pessoas falam duas línguas: Amondawa e Juma.
A etnia Amondawa é natural de Rondônia, no município de Mirante da Serra. Em 2012, haviam 113 indivíduos do grupo. Segundo levantamento histórico do PIB (Povos Indígenas do Brasil), eles foram contatados pela primeira vez na década de 1980.
Já a etnia Juma fica no Amapá. No século 18, o grupo teria tido até 15 mil indígenas. Mas, após sucessivos massacres e a expansão das frentes extrativistas, em 2002 sobraram apenas cinco indivíduos, sendo um pai com três filhas e uma neta.
Como o Tupi Guarani nasceu
O estudo dos pesquisadores alemães indica que a família linguística indígena Tupi Guarani se originou no século 6 aC., na bacia dos rios Tapajós e Xingu, que ficam perto da atual cidade de Santarém, no Pará.
Essas línguas originaram palavras que falamos até hoje, como “onça”, “piranha” e “jacaré”. Por meio do algoritmo de biologia molecular, os pesquisadores se concentram em comparar os vocabulários e estruturas gramaticais das línguas que se inserem no Tupi Guarani.
O objetivo, ao final, é construir uma árvore genealógica. “Queremos saber como é essa árvore, quão fortemente relacionadas as línguas individuais eram umas com as outras, quantos anos cada língua tem e quando ela se dividiu em outras línguas”, explicou Fabrício Ferraz Gerardi, que lidera o estudo.
Como é o estudo
Para analisar a relação das línguas Tupi Guarani, a equipe comparou o vocabulário básico de cada uma delas. Eles perguntaram, por exemplo, se as palavras “perna”, “cantar” ou “morcego” se parecem entre as línguas ou compartilham uma raiz em comum.
Gerardi comparou as mutações fonéticas, das palavras, com as mutações genéticas, nas espécies biológicas. Segundo ele, cada espécie de animal ou planta tem uma sequência de genes que indicam o que as torna iguais ou semelhantes.
“A taxa aleatória geral de mudanças genéticas [mutações] também pode ser usada para estimar como, há muito tempo, duas espécies relacionadas se separaram de um ancestral comum”, disse.
Na prática, Gerardi quer dizer que é provável que duas etnias com uma mesma palavra ou termo semelhante podem ter tido um ancestral comum. Na língua tupinambá, por exemplo, “anta” é “tapiʔit”. O mesmo acontece na língua Awetí – o que indica que pode haver uma ligação entre esses povos.