Dois novos tratamentos clínicos para o vírus ebola podem tornar a doença “evitável e tratável”, segundo uma notícia da BBC publicada na segunda-feira (12). Um estudo envolvendo quatro drogas concluiu que dois tratamentos, chamados REGN-EB3 e mAb114, foram eficazes na limitação da mortalidade da doença.
De acordo com a Wired, embora os pesquisadores já tenham desenvolvido uma vacina experimental para impedir que as pessoas pegassem o vírus, os dois novos tratamentos aumentam drasticamente as taxas de sobrevivência de indivíduos que já o contraíram.
Uma equipe internacional coordenada pela Organização Mundial de Saúde — composta pelo Institut National de Recherche Biomedicale, pelo Ministério da Saúde da República Democrática do Congo e por três organizações humanitárias — começou a realizar testes em novembro de 2018 e teve como objetivo comparar a eficácia de novas terapias em 725 pacientes. O estudo foi realizado em regiões do país que vêm passando pelo maior surto de ebola já registrado no país, que começou no ano passado e já matou quase 1.900 pessoas.
Os pacientes receberam uma droga antiviral chamada remdesivir ou uma de três drogas que dependem de anticorpos monoclonais, que são proteínas grandes que reconhecem patógenos específicos e atraem células do sistema imunológico para destruí-las, segundo a Wired.
Dois dos tratamentos com anticorpos monoclonais, o REGN-EB3, da Regeneron, e o mAb114, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA (NIAID, na sigla em inglês), mostraram-se tão eficazes que os investigadores interromperam o ensaio depois de inscrever apenas 681 pacientes da meta de 725. A BBC informou que o remdesivir e um terceiro medicamento de anticorpo monoclonal chamado ZMapp “foram retirados dos testes, pois foram considerados menos eficazes”.
Os pacientes que tomaram ZMapp, um tratamento mais antigo usado em esforços anteriores para controlar surtos de ebola, tiveram “uma taxa de mortalidade global de 49%” em comparação com uma taxa de mortalidade global de mais de 75% em pacientes não tratados. As novas drogas tomaram essa taxa muito mais baixa, particularmente quando foram administradas em pacientes nos estágios iniciais da doença do vírus ebola.
Diz a matéria da Wired:
O coquetel de anticorpos monoclonais produzido por uma empresa chamada Regeneron Pharmaceuticals teve o maior impacto na redução das taxas de mortalidade, chegando a 29%, enquanto o anticorpo monoclonal do NIAID, chamado mAb114, teve uma taxa de mortalidade de 34%. Os resultados foram mais notáveis para pacientes que receberam tratamentos logo após ficarem doentes, quando suas cargas virais ainda eram baixas — as taxas de mortalidade caíram para 11% com o mAb114 e apenas 6% com a droga Regeneron, em comparação com 24% com ZMapp e 33% com Remdesivir.
Resultados preliminares do estudo, com base em dados de 499 dos pacientes, foram divulgados no site do National Institutes of Health na segunda-feira (12).
O ZMapp conta com anticorpos produzidos originalmente por camundongos infectados pelo ebola, enquanto o REGN-EB3 é um coquetel de três tipos de anticorpos monoclonais também gerados em camundongos. O mAb114 foi desenvolvido a partir do DNA de glóbulos brancos de um indivíduo que sobreviveu a um surto da doença na RDC em 1995.
De acordo com a Wired, mais estudos agora se concentrarão em saber qual é mais eficaz entre o REGN-EB3 ou o mAb114. A Organização Mundial de Saúde informa que os centros de tratamento nas zonas de surto apenas administrarão os dois medicamentos mais eficazes.
“Uma coisa que não vai mudar é que essas duas terapias são melhores que as outras duas — isso é certo”, disse Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas do NIH, ao Science News.
Jeremy Farrar, diretor da instituição de caridade Wellcome Trust, disse à BBC que os tratamentos mostram que o ebola está se tornando uma doença “evitável e tratável”, acrescentando que “nunca vamos nos livrar do ebola, mas devemos evitar que esses surtos se transformem em grandes epidemias nacionais e regionais”.