Elon Musk quer democracia em Marte, e acha que nossa realidade é uma simulação
Elon Musk, fundador da Tesla e SpaceX – e talvez a inspiração para o Homem de Ferro de Robert Downey Jr. – disse aos participantes da Code Conference que a chance de estarmos realmente vivendo na realidade é de “uma em bilhões”. Ele também tem algumas ideias sobre Marte, e até mesmo sobre o futuro carro da Apple.
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Estamos em uma simulação?
Esta é a parte mais intrigante do bate-papo com Musk na conferência. Eis o que ele disse, segundo o Vox:
O argumento mais forte para nós estarmos em uma simulação provavelmente é o seguinte. Quarenta anos atrás, tínhamos o Pong com dois retângulos e um ponto. Assim eram os jogos.
Agora, quarenta anos depois, temos simulações fotorrealistas em 3D com milhões de pessoas jogando ao mesmo tempo, e isso está ficando melhor a cada ano. Em breve teremos a realidade virtual e a realidade aumentada.
Se você assumir uma taxa de melhoria, então os jogos vão se tornar indistinguíveis da realidade, mesmo que a taxa de avanço caia para um milésimo do que está agora. Então vamos imaginar 10.000 anos no futuro, o que não é nada na escala evolutiva.
Assim, dado que estamos claramente em uma trajetória de ter jogos que são indistinguíveis da realidade, e esses jogos poderiam ser jogados em qualquer set-top box ou em um PC ou em qualquer outra coisa, e provavelmente haveria bilhões de tais computadores e set-top boxes, parece seguir-se que as chances de que estamos na realidade é de uma em bilhões.
Diga-me o que há de errado com este argumento. Existe uma falha no argumento?
Musk diz que as gerações futuras rodariam simulações de pessoas vivendo no passado. Isso não é tão absurdo, especialmente tendo em conta que já fazemos isso em um nível muito rudimentar: por exemplo, cientistas da Universidade Stanford usaram simulações para analisar as primeiras migrações humanas.
Como se trata do futuro, os computadores serão mais poderosos, e as simulações serão melhores. (Provavelmente é verdade.) Se as simulações forem boas o suficiente, então elas provavelmente seriam conscientes. (Isto é em parte uma questão de filosofia, mas em tese, algo possível.) Então, se isso é possível, o que nos impede de acreditar que isso já não aconteceu?
Musk certamente não é a primeira pessoa a propor isto. Como observa o Vox, isso é explicado em detalhe num artigo do filósofo Nick Bostrom, da Universidade de Oxford, uma das fontes favoritas de experimentos mentais no Vale do Silício.
Bostrom é famoso por suas pesquisas sobre o chamado risco existencial; seu livro mais recente, Superinteligência: Caminhos, Perigos, Estratégias fala sobre todas as maneiras que uma inteligência artificial poderosa poderia destruir todos nós.
Parece que Musk se inspirou em Bostrom a temer a revolta dos robôs, que ele considera ser “potencialmente mais perigosa do que armas nucleares”. No ano passado, ele fundou a OpenAI, uma organização sem fins lucrativos de pesquisa em inteligência artificial que quer desenvolver uma AI amigável, em vez de prejudicial.
Isso não quer dizer que Musk acredite que toda AI será maligna. Na conferência, ele deu a entender que na verdade havia só uma empresa que o preocupa – ele não citou nomes… mas provavelmente é o Google.
Democracia em Marte
Durante a Code Conference, Musk também mencionou suas propostas de como deveria ser a democracia em Marte. Mesmo que não estejamos tão perto de colonizar o planeta vermelho, o fundador da SpaceX tem algumas ideias bastante utópicas de como um governo deveria funcionar por lá.
Musk disse ser a favor da democracia direta em Marte, em vez da democracia representativa, para dar ao povo o que ele realmente quer e também evitar corrupção. “Eu acho que é provavelmente melhor, porque o potencial de corrupção é substancialmente diminuído em relação a uma democracia representativa”, disse Musk.
A democracia direta é quando as próprias pessoas votam em um líder e nas leis ou políticas. Em contraste, o Brasil é uma democracia representativa, onde os cidadãos votam em representantes que, por sua vez, decidem as leis.
Musk também acrescentou que criar leis em Marte deveria ser mais difícil do que se livrar delas, uma ideia comum entre muitos libertários do Vale do Silício. Ele quer enviar pessoas a Marte começando em 2024.
Quanto à política, o Tratado do Espaço Exterior de 1966 afirma que as nações não podem reivindicar posse sobre Marte, e alguns pesquisadores argumentam que o planeta deve ser completamente independente da Terra desde o início. (A independência planetária tem um longo histórico na ficção científica, mais notavelmente no livro The Moon is a Harsh Mistress, de Robert Heinlein.)
Musk não é a única pessoa a pensar sobre os meandros da vida em um lugar que ainda não alcançamos pessoalmente. A NASA cogita construir uma câmara de sono profundo para levar astronautas até Marte, e Andy Weir – que não é um cientista, mas é o autor de Perdido em Marte – disse ao Congresso americano que o foco deveria estar no desenvolvimento de tecnologia para gravidade artificial.
Apple vs. Tesla
Quando a conversa se voltou para veículos autônomos, Musk quis compartilhar suas opiniões sobre o que ele acredita ser a maior concorrente da Tesla – e não é o Google.
Musk não considera que o projeto de carros autônomos do Google seja um concorrente direto da Tesla – “eles não são uma empresa de carros”. Mas ele teve algo a dizer sobre rumores de que a Apple estaria investindo nesse mercado, empresa que ele vê como uma concorrente direta.
Eu diria que é ótimo que eles estejam fazendo isso e eu espero que dê certo… Acho que eles deveriam ter começado este projeto mais cedo, na verdade… acho que eles só entrarão na produção em massa em 2020… é uma oportunidade perdida. São dois anos… eles vão fazer um bom carro e serão bem-sucedidos.
Falando em oportunidades, Musk está planejando outro evento da Tesla antes do final do ano para abordar especificamente a tecnologia autônoma, que ele acredita que estará pronta em dois anos. O que exatamente ele vai anunciar? “Deixe-me apenas dizer que vamos fazer a coisa óbvia”. Um Tesla Model S que dirige sozinho?
Em outras notícias de transporte, Musk disse acreditar que “algo vai acontecer no futuro” com o Hyperloop, meio de transporte ultrarrápido no qual vagões de alumínio levariam pessoas e carga a altas velocidades por tubos de aço. Ele disse que a SpaceX com certeza gostaria de construir uma demonstração para o Hyperloop – no momento, isso está a cargo de outras empresas.
Foto por Francois Mori/AP