Este bicho-pau enorme e horrível não está mais extinto
Uma pequenina ilha fica a quase 650 km de distância da costa leste Austrália. E nesta ilha uma vez viveu uma grande população de bichos-paus gigantes – “lagostas-das-árvores” de 15 cm que viviam nas árvores – os Dryococelus australis. Mas há centenas de anos, a humanidade chegou a ilha, trazendo consigo pestes e ratos-pretos. Os insetos foram extintos pelos ratos.
Entretanto, escaladores da Pirâmide de Ball, uma agulha vulcânica localizada nas proximidades da ilha Lord Howe, avistaram a carcaça fresca de um D. australis durante uma escalada na década de 1960. Um estudo da Pirâmide de Ball em 2001 encontrou alguns espécimes vivos em uma árvore, e outra pesquisa em 2002 encontrou ainda mais insetos da espécie vivos. Mas os animais encontrados na Pirâmide e os encontrados em Lord Howe são completamente diferentes, fazendo cientistas se perguntarem: teria eles encontrados, de fato, uma espécie extinta com vida, ou seriam estes insetos completamente diferentes?
Imagem: Mikheyev et al, Curr Bio (2017)
Porém, as diferenças entre o antigo e novo espécime são óbvias. O, supostamente extinto, inseto, era mais grosso, com pernas traseiras também mais grossas (C) e membros traseiros de formato diferente (B). Pesquisadores também possuíam outras razões para acreditar que se tratava de uma espécie diferente. Não seria a primeira vez que espécies evoluem para continuam com a mesma aparência. Ou talvez os dois novos insetos possam ser derivados da mesma espécie, mas separados por tanto tempo que a evolução fez eles se divergirem.
Pirâmide de Ball (Imagem: Jon Clark /Wikimedia Commons)
Hoje em dia, descobrir se os dois animais são da mesma espécie requer entender seus genomas – os específicos do código genético de cada um. Bichos-paus são uma espécie especialmente desafiante de sequenciar pois eles têm um genoma enorme, com bilhões de pares base (letras de DNA), de acordo com um novo estudo publicado na Current Biology. Mas depois de analisar ambos espécimes de museus e dos encontrados na Pirâmide de Ball, os pesquisadores conseguiram uma resposta. O DNA se diferencia em menos de 1%, “sugerindo que as duas populações provavelmente se divergiram da espécie original e não há muito tempo para que a especiação ocorresse”. Os insetos da Pirâmide de Ball eram lagostas-das-árvores da ilha Lord Howe.
Um melhor entendimento das espécies é importante já que pesquisadores esperam reintroduzi-las ao que um dia foi seu habitat nativo. Um programa de extermínio dos ratos está agendado para ter início em 2018 na ilha de Lord Howe, com a reintrodução ocorrendo em seguida. Se a análise genética tivesse revelado uma espécie diferente, então os pesquisadores introduziriam uma nova espécie na ilha, não reintroduziriam uma nova. Essa é uma história completamente diferente que potencialmente poderia ter levado uma problema ecológico inesperado se a espécie fosse levado a um habitat que ela não pertence.
Tudo isso mostra quão úteis podem ser as coleções de museus para a ciência – conhecimento recolhido de um antigo inseto morto pode potencialmente salvar uma espécie inteira centenas de anos depois.
Imagem de topo: Mikheyev et al, Curr Bio (2017)