Mais de 470 mil pessoas foram afetadas de alguma forma pelas fortes chuvas que rondam a Bahia. O estado já registra 20 mortes dentro dos 116 municípios atingidos pelo fenômeno.
O volume de chuva é atípico e parece ter como causa uma anomalia climática conhecida como La Niña. O fenômeno acontece em intervalos de dois a sete anos e provoca uma série de alterações nos padrões de chuva e temperatura globais.
Tudo isso é ocasionado devido a intensificação dos ventos alísios, que sopram na faixa equatorial de leste para oeste. Em resumo, águas quentes se acumulam no Pacífico Equatorial Oeste e a temperatura fria toma conta do Pacífico Leste.
No Brasil, as regiões norte e nordeste costumam ser afetadas pelas chuvas do La Niña, enquanto o centro-sul enfrenta períodos de seca. Essa chuva, por sua vez, aparece graças à Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) que acompanha o fenômeno.
Estamos falando aqui de uma faixa de nebulosidade que deixa o clima úmido e intensifica o nível de precipitações. Naiane Araújo, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), explicou à Folha de São Paulo que a ZCAS começou a se formar no início de novembro.
Sendo assim, o estado já vinha recebendo chuvas fortes há mais de um mês. “Assim, os rios já estavam cheios e os solos bastante encharcados e não conseguiram absorver as águas desses novos temporais”, explicou.
As chuvas não devem parar tão já. Segundo o Inmet, há uma probabilidade superior a 60% de que o fenômeno La Ninã permaneça durante todo o verão, podendo atingir uma intensidade moderada entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022.
A intensidade dos fenômenos é o que mais impressiona. Em entrevista à BBC, o climatologista Francisco Eliseu Aquino, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) explicou sobre a possível relação entre os eventos e as mudanças climáticas.
“Neste momento, não conecto diretamente as mudanças climáticas com esse evento extremo. (…) Mas, num planeta mais quente, eventos extremos tornam-se mais frequentes, com a formação de depressões subtropicais como esta [vista na Bahia]”, disse.