_Cibersegurança

Equador diz ter sido vítima de 40 milhões de ataques cibernéticos desde que entregou Julian Assange

Informação é do vice-ministro de Tecnologias de Informação e Comunicação do país, Patricio Real, que disse que os ataques começaram pouco depois da prisão

Matt Dunham/AP

Autoridades equatorianas alegam que o país sofreu cerca de 40 milhões de ataques cibernéticos. Eles teriam começado quando o país permitiu que a polícia britânica removesse o fundador do Wikileaks, Julian Assange, de sua embaixada em Londres. As informações são da AFP.

Segundo a agência de notícias, o número de 40 milhões foi revelado pelo vice-ministro de Tecnologias de Informação e Comunicação do Equador, Patricio Real. Ele disse que os ataques começaram pouco depois da prisão em 11 de abril:

Patricio Real, vice-ministro de Tecnologias de Informação e Comunicação do Equador, disse que os ataques, que começaram na quinta-feira, vieram “principalmente de Estados Unidos, Brasil, Holanda, Alemanha, Romênia, França, Áustria e Reino Unido”, assim como do próprio país sul-americano.

… Javier Jara, subsecretário do Departamento de Governo Eletrônico do Ministério das Telecomunicações, disse que o país sofreu “ataques volumétricos” que bloquearam o acesso à internet após “ameaças de grupos ligados a Julian Assange”.

Os ataques volumétricos são um tipo de ataque distribuído de negação de serviço (DDoS), em que os atacantes inundam os servidores com pedidos numa tentativa de sobrecarregá-los e impedir o acesso de usuários legítimos. O número de 40 milhões deve ser entendido não como o número de ataques coordenados independentemente, mas como o número cumulativo de tentativas automáticas de perturbar os sistemas visados.

Sites do Ministério das Relações Exteriores, do banco central, do gabinete do presidente Lenín Moreno, das autoridades fiscais e de uma série de outras páginas do governo foram visados, escreveu a AFP.

Nenhuma instituição relatou tentativas bem-sucedidas de roubar ou destruir dados, acrescentou a agência de notícias.

Assange, fundador da organização internacional sem fins lucrativos e secreta Wikileaks, havia originalmente buscado e recebido asilo na embaixada em 2012. Naquela época, as autoridades britânicas estavam tentando extraditar Assange para a Suécia, onde as forças policiais estavam investigando dois depoimentos separados de que ele havia cometido agressão sexual e estupro.

Assange se defendeu das alegações, afirmando serem um pretexto para garantir sua extradição para os EUA, onde ele seria processado por vazar segredos governamentais e militares.

As autoridades suecas abandonaram mais tarde a investigação, mas o Reino Unido continuou buscando sua detenção por não ter pago a fiança. Assange permaneceu na embaixada e, aparentemente, foi desgastando a paciência do Equador ao longo do tempo.

Enquanto ele estava lá, o Wikileaks liberou caches de e-mails hackeados dos sistemas de e-mail do Partido Democrata, mensagens diretas do Twitter de Assange com Donald Trump Jr. (nas quais ele implorava por uma embaixada) vazaram, e a conta oficial do Wikileaks no Twitter começou a publicar afrontas de extrema-direita.

A embaixada teria cortado seu acesso à internet em 2018 por suposta interferência política, o que, segundo o governo, veio depois de pedidos de que ele deixasse de prejudicar sua relação com outros países. Moreno se referiu a Assange como um “problema herdado” de seu antecessor, Rafael Correa, e acusou Assange de hackeá-lo pessoalmente.

No fim das contas, os Estados Unidos acusaram secretamente, sim, Assange de conspirar com Chelsea Manning para tentar invadir uma rede de computadores protegida do Departamento de Defesa (a Rede de Protocolo de Internet Secreta, SIPRNet), usando outro nome de usuário.

Essa tentativa falhou, mas Manning acabou fornecendo ao Wikileaks centenas de milhares de arquivos do governo, que a organização divulgou em 2010.

Esses arquivos variavam de cabos diplomáticos a outros dados que implicavam militares dos EUA no Iraque e no Afeganistão na ocultação de mortes de civis, permissão de tortura e, talvez o mais infame, na abertura de fogo em Bagdá a partir de navios Apache, matando pelo menos uma dúzia de pessoas, incluindo dois jornalistas da Reuters.

Os vazamentos humilharam o governo dos EUA, e tem havido uma discussão considerável sobre se Assange realmente conspirou com Manning para invadir a SIPRNet ou as acusações são apenas uma vingança.

Se Assange for extraditado para os EUA e condenado, enfrentará um máximo de cinco anos de prisão sob essas acusações. Como o Verge observou, a acusação é incomumente fraca nas provas (e possivelmente fora do prazo prescricional), embora a CBS News tenha noticiado que os promotores estão avaliando acusações extras.

No entanto, se extraditado apenas com base na acusação específica de invasão, o Verge relatou que os juristas dizem que os EUA não podem simplesmente atingi-lo com acusações adicionais como espionagem — o que os advogados de Assange afirmam que poderia lhe render a pena de morte.

[AFP]

Sair da versão mobile