Equipes de museólogos caçam e restauram tesouros científicos perdidos em escolas e museus do Brasil

Museólogos brasileiros explicam que muitas antiguidades que contam a história do nosso país podem estar pedidas dentro de quartinhos de tralha.

O trabalho de museólogos não consiste apenas em identificar, restaurar, montar e manter peças históricas, mas também em lutar contra o descaso de instituições e caçar peças em faculdades e escolas que não sabem muito bem o que fazer com as antiguidades — além de encarar professores que criam um certo apego aos antigos objetos e não se desfazem deles com tanta facilidade.

A equipe de museologia do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), localizado no Rio de Janeiro, juntamente de especialistas de diversas universidades do Brasil, consultaram 834 universidades, 470 museus, 161 institutos de pesquisa científica e/ou tecnológica e 21 escolas de ensino médio buscando encontrar objetos científicos fabricados no país até 1960 que não estivessem mais em uso. Das instituições consultadas, cerca de 68% declararam não possuir nenhum objeto científico antigo.

Marcus Granato, coordenador da equipe de museologia do Mast, diz que o que ele e a equipe mais encontram são objetos históricos abandonados em escolas,  universidades e até mesmo museus e institutos de pesquisa do Brasil. Em entrevista à Revista Pesquisa, o museólogo explica que a organização do Mast — que conta com equipe especializada, inventário, catálogo de coleção, planejamento e método de trabalho — faz dele uma exceção, já que é bastante comum encontrar alguns destes objetos em depósitos de móveis abandonados.

Um aparelho de observação de estrelas fica hoje em exposição no Mast graças ao trabalho desta equipe. Ele foi restaurado no ano 2000, exatos cem anos depois da instalação original, na antiga sede do Observatório Nacional, no morro do Castelo, depois de décadas de abandono. Além deste observador, Granato conta do episódio em que uma pêndula foi encontrada no depósito de velharias de um instituto de uma universidade paulista. O museu conseguiu recuperar o aparelho e ele também está exposto no acervo do local. Para 2015, o Mast planeja restaurar uma luneta astronômica do século XIX.

Por lei, objetos históricos de patrimônio cultural devem ser preservados, sendo aplicada multa e até mesmo prisão para aquele que destruir, inutilizar ou deteriorar estes objetos. Mas por falta de espaço e entendimento, Granato afirma que não é preciso guardar tudo, mas, sim “aqueles instrumentos, com os respectivos catálogos, que documentem a atividade científica de uma época”. A dificuldade, no entanto, é como manter estas antiguidades. Granato afirma que há interesse em protegê-las, mas a maioria das pessoas não sabe como, seja por falta de lugar para armazenamento, dinheiro ou conhecimento do objeto, mas o museólogo afirma que sempre é possível fazer alguma coisa, desde que um especialista seja contatado.

O próprio site do museu dá dicas de como manter estes objetos com um manual de recomendações — limpar apenas com um pano e jamais colar etiquetas para identificar os objetos, por exemplo. Em alguns casos, o museu atende casos de quem não sabe o que fazer com os objetos. Eles ajudaram uma professora de uma escola em Araraquara, no interior de São Paulo, a organizar cerca de 200 equipamentos, entre balanças, prismas e telégrafos, e reinauguraram o laboratório da escola. Não é em todo caso que o Mast poderá ajudar — já que o acervo deles é focado em itens que tenham relação com a astronomia, mas Rodrigo Cantarelli, museólogo da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, explica que o ideal é procurar algum museu que se interesse pelos objetos ou consultar um especialista antes de fazer o descarte. O problema é que, no Brasil, especialistas em objetos históricos não são muito fáceis de encontrar. [Revista Pesquisa]

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