Arqueólogos escavarão um navio viking pela primeira vez em mais de 100 anos
Pela primeira vez em um século, os arqueólogos escavarão um navio viking enterrado. Localizado a menos de um metro abaixo da superfície, o navio está sendo devastado por fungos, forçando os arqueólogos a agir rapidamente.
Com financiamento do governo norueguês, arqueólogos do Instituto Norueguês de Pesquisa do Patrimônio Cultural (NIKU) iniciarão escavações do navio Gjellestad em junho deste ano, relata o The Local.
Os cientistas relutaram em desenterrá-lo por medo de danificá-lo ainda mais, mas eles não parecem ter muita escolha, dada a recente descoberta de fungos mastigando a relíquia enterrada.
O navio Gjellestad foi descoberto em 2018 com radar de penetração no solo e fica a apenas 50 centímetros abaixo da superfície de uma fazendo no condado de Øsfold, na Noruega. Tem cerca de 20 metros de comprimento e cerca de 1.200 anos, embora a data continue sendo uma estimativa aproximada.
Esta navio está dentro de um túmulo degradado, e outros locais próximos sugerem que esse lugar já foi um cemitério viking. Os cemitérios vikings tinham uma profunda afinidade cultural com os navios, enterrando indivíduos de alto escalão dentro deles, juntamente com grandes quantidades de bens funerários.
No ano passado, arqueólogos da NIKU coletaram uma amostra da quilha inferior do navio para análise. Os resultados não foram animadores.
O navio viking enterrado revelado por um radar de penetração no solo em 2018. Crédito: NIKU
“A parte inferior era muito pastosa na superfície, e análises microscópicas demonstraram evidências muito profundas de fungos ativos, demonstrando que estavam em decomposição ativa”, disse Jan Bill, curador da coleção de embarcações viking do Museu de História Cultural, ao Gizmodo. “Ficou claro que, com as condições atuais — situadas acima do nível da água subterrânea em um ambiente arenoso e sedoso — os restos e madeira não sobreviveriam por muito tempo”.
Daí a necessidade de escavações, que estão previstas para começar no próximo mês. A equipe tomará precauções especiais, dada a pandemia de COVID-19 em andamento. Como Bill explicou ao Gizmodo, a equipe da NIKU seguirá as mesmas diretrizes descritas para outros locais de trabalho na Noruega, como manter uma distância mínima de 1 metro entre indivíduos, um único conjunto de ferramentas e equipamentos para cada membro da equipe, lavar frequentemente as mãos e assim por diante. Bill disse que essas prescrições não são ideais, mas são “gerenciáveis”.
Apesar dessas condições difíceis, a inegável boa notícia é que eles conseguem escavar um navio viking enterrado — algo que não acontece há mais de 100 anos. Como Bill disse ao The Local, as únicas três escavações anteriores dos navios viking ocorreram em 1868, 1880 e 1904, e essas escavações não foram conduzidas com técnicas e métodos modernos. A nova escavação pode resultar em descobertas e revelações completamente novas.
Como você provavelmente já adivinhou até agora, os arqueólogos, além de descobrir mercadorias enterradas e novas pistas sobre o navio, podem realmente encontrar um corpo dentro do navio. Se um corpo for encontrado, é provável que esteja em muito mau estado.
“Esperamos encontrar vestígios de que já teve um corpo lá, uma vez que nenhum túmulo de navio escandinavo provou ser cenotáfio”, disse Bill ao Gizmodo. “As chances de que restos estejam preservados são poucas, pois o enterro pode muito bem ter sido alvo de roubo em algum momento — isso acontece com a maioria dos enterros de navios — e as condições de preservação não são ideais para ossos e tecidos humanos”.
Dito isto, a equipe da NIKU estará pronta. Além de documentar ossos humanos preservados e uma “mancha corporal” (uma descoloração da areia na localização do corpo), os cientistas tentarão coletar evidências genéticas, gorduras, conteúdo estomacal e um mapa químico da área. Supondo que tudo isso esteja disponível, é claro.
Quanto ao navio Gjellestad, Bill e seus colegas esperam descobrir grande parte do navio, o que lhes permitirá aprender sobre sua construção.
“Atualmente, não sabemos se o navio é da primeira parte da era viking, ou melhor, do meio do período, mas teremos uma resposta para isso”, afirmou Bill. “Segundo, esperamos ser capazes de identificar grandes partes dos objetos colocados no túmulo e traços de diferentes ações realizadas como parte do ritual de enterro — novamente com a expectativa de que seremos capazes de aprender muita coisa, porque as técnicas de escavação melhoraram muito desde as escavações anteriores”.
A escavação também pode trazer novas ideias sobre outros enterros de navios noruegueses e melhorar a compreensão dos arqueólogos sobre o que eles representam em termos de governo e política dos vikings.
“Obviamente, os túmulos monumentais de navios como Gjellestad foram construídos para alguns dos indivíduos mais poderosos que viveram no sul da Noruega na era viking”, disse Bill.