Este tocador de música digital não quer saber dos seus MP3s vagabundos

Até onde vai a busca pela qualidade de áudio perfeita? Faz sentido gastar centenas de dólares por um fone de ouvido customizado para a sua orelha, ou centenas de Megabytes em um arquivo de áudio que seja a cópia perfeita do que passa pela mesa de masterização do engenheiro de som no estúdio? Dá para […]

Até onde vai a busca pela qualidade de áudio perfeita? Faz sentido gastar centenas de dólares por um fone de ouvido customizado para a sua orelha, ou centenas de Megabytes em um arquivo de áudio que seja a cópia perfeita do que passa pela mesa de masterização do engenheiro de som no estúdio? Dá para notar a diferença? Em busca de respostas, ouvi na CES o AK100, o novo tocador de US$ 700 da coreana iRiver que promete mudar a maneira que ouvimos música digital.

O design é espartano, mas elegante. Aço escovado, tudo preto e um detalhe que gostaria de ver em mais tocadores assim: um dial analógico, à velha maneira do som antigo, que permite 150 níveis de decibéis diferentes. Como ele tem apenas 32 GB, a iRiver teve a boa ideia de deixar não uma, mas duas entradas para cartões microSD. O circuito é diferente de tocadores como o iPod por ter um bom DAC (um conversor de sinal digital para analógico) embutido. Isso permite uma reprodução mais fiel, próxima ao material original. A bem da verdade, o AK100 é capaz de tocar músicas com uma qualidade teoricamente melhor que o CD, o que eles chamam de “Studio Mastering Quality Sound”: 24 bit, 192 KHz (compare com 16bit e 44.1 KHz de um CD normal).

Para tentar identificar se essas especificações todas fariam alguma diferença, fiquei longos minutos com ele durante a CES em um quarto de hotel, com um engenheiro coreano observando atentamente as minhas reações. Ouvi com os meus fones mesmo Pink Floyd, John Coltrane, Miles Davies, Stan Getz & João Gilberto e coisas mais recentes, como Metallica e Maroon 5. Ouvir Coltrane e João Gilberto, especificamente, foi revelador. As notas soam mais claras, mas não excessivamente “brilhantes”. Cada detalhe que deveria ser captado estava lá, da respiração e teclar do saxofonista aos dedos se arrastando no violão, aquele reverb meio “atrasado” dos discos antigos em grandes salas de gravação. Tudo faz com que o som seja mais, na falta de uma palavra melhor, orgânico. Era de fato como estar ali perto do cara no estúdio. Precisaria de muitos testes usando a mesma música em formatos e tocadores diferentes para fazer a comparação, mas o saldo foi bastante positivo. Vale o investimento de dinheiro e tempo em caçar arquivos do tipo, “FLACs 100%” e coisas assim?

Apenas para alguns tipos de música, normalmente antigas, na verdade. Músicas com silêncios, alcance dinâmico, pianos bem escondidos, baixo que não queriam estourar o seu crânio. Naquele dia, quanto mais recente era o material que ouvia, menos impressionante o AK100 soava. Eu falei mais longamente sobre isso no último podcast, mas não é que a música hoje esteja pior, de forma alguma, é que nos anos recentes nos acostumamos a ouví-la através do Youtube em caixinhas ruins de computador ou fones de ouvido vagabundos de celulares – ao contrário das coisas nos anos 60 e 70, por exemplo, que eram apreciadas em grandes sistemas estéreo com caixonas de madeira. Então tudo hoje soa mais alto, uniformemente alto, porque os engenheiros de som precisaram criar arquivos compatíveis com o nosso equipamento atual. Um bom jazz gravado ao vivo soa bastante diferente em um sistema de alta-fidelidade em comparação à mesma música em 256 kbps no iPod. Mas se você ouve bastante rock mais pesado, rap, música eletrônica ou quase qualquer coisa do top100 atual, a diferença é bem menos sensível.

Seja como for, é interessante ver o ressurgimento do interesse pelo som de alta fidelidade. O AK100 é apenas um dos tocadores do tipo anunciados nos últimos meses. Há o Pono, o tocador de música do Neil Young, coisas ultraminimalistas como o Tera Player, além de um monte de DACs (me impressionei recentemente com os da Cypher) desenhados especificamente para pegar os arquivos do iOS e soltar todo o potencial analógico das músicas. O quanto você precisa disso depende dos seus fones e as músicas que curte. Começo a achar que em um determinado ponto de investimento em equipamento a obsessão deixa de ser a “pureza da música” e passa a ser focada na “definição do áudio”. Consigo imaginar um “você ouviu o João Gilberto tossindo aos 2:34?” como um “Roda Crysis” para audiófilos. Mas isso é assunto para outro post.

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