Atualmente, existem algumas drogas que podem ajudar a tratar dependências químicas, como as de opióides ou nicotina. Contudo, não há medicamentos seguros e eficazes que auxiliem pessoas com vício em cocaína a sair desta situação.
Agora, um novo estudo parece ter encontrado um mecanismo que pode virar um tratamento potencial para esta dependência. Os resultados foram publicados na revista Nature Neuroscience.
Entenda a pesquisa
Para a pesquisa foi utilizado cérebros de ratos com dependência de cocaína, o que permitiu uma variedade genética na amostra, semelhante à diversidade humana.
Entre eles, havia também cérebros de ratos que auto administravam a droga, de forma aproximada a das dependências reais.
Com as amostras, os sequenciaram os genes expressos na amígdala dos ratos. Esta é uma parte do cérebro que processa emoções e que fica altamente ativa em pessoas com dependências químicas.
Com auxílio de profissionais de informática, eles utilizaram os dados coletados e desenvolveram um mapa desta região cerebral, que eles chamam de atlas molecular da amígdala.
Vício, genes e metabolismo energético
Como resultado, eles identificaram fatores moleculares que influenciam os comportamentos de dependência de cocaína. Assim, encontraram conexões nunca antes vistas entre comportamentos de dependência e genes envolvidos no metabolismo energético.
Segundo os pesquisadores, isso sugere uma nova maneira de pensar a biologia molecular do vício, porque sugere que a genética pré-existente pode desempenhar um papel muito maior na dependência do que se pensava.
“Isso nos diz que o metabolismo energético pode desempenhar um papel fundamental na atividade dos neurônios na amígdala e que esse efeito pode estar contribuindo para comportamentos semelhantes à dependência”, disse Francesca Telese, autora do estudo.
Além disso, os pesquisadores conseguiram testar um medicamento nos ratos que ajudou a reverter esses comportamentos. O alvo foi uma enzima envolvida tanto no metabolismo energético quanto na sinalização entre neurônios.
Para os cientistas, relacionar as descobertas a nível celular com os comportamentos já foi um avanço, mas conseguir modificá-los com um medicamento é incrível. “Nos aproxima um passo de entender os mecanismos extremamente complexos no cérebro que impulsionam a dependência e a recaída”, acrescentou Telese.
Agora, eles estão trabalhando em estudos com amostras maiores. A ideia é entender quanto dos efeitos observados foram baseados na genética pré-existente e quanto foram baseados em respostas ao uso abusivo de cocaína.