Estudo mostra porque picadas de mosquito coçam mais em algumas pessoas
Uma pesquisa feita com camundongos revelou que diferenças na atividade do sistema imunológico podem determinar porque picadas de mosquitos podem coçar mais em algumas pessoas. O resultado foi publicado na última quarta-feira (4) na revista acadêmica Nature.
De acordo com o estudo, a coceira acontece porque a pele tem muitos neurônios sensoriais — células nervosas que detectam mudanças no ambiente –, que desencadeiam sensações, como dor, por exemplo.
Assim, quando uma pessoa entra em contato com um potencial alérgeno, como saliva de mosquito, os neurônios o detectam e podem desencadear a coceira em resposta. Além disso, também ajudam a ativar células imunológicas próximas, iniciando uma reação inflamatória com inchaço e vermelhidão.
Algumas pessoas, quando repetidamente expostas a um alérgeno, podem desenvolver uma inflamação alérgica crônica, que altera os tecidos onde a inflamação acontece. Dessa forma, as células imunes podem modificar a sensibilidade dos nervos, tornando-os mais ou menos propensos à reação.
“Todos nós temos neurônios sensoriais, então todos nós podemos sentir coceira – mas nem todos nós temos alergias, mesmo que estejamos cercados pelos mesmos alérgenos”, disse a autora sênior do estudo, Dra. Caroline Sokol , professora de alergia e imunologia na Harvard Medical School e no Massachusetts General Hospital, ao Live Science.
Como foi feito o estudo?
A fim de descobrir quais neurônios sensoriais disparam em resposta a alérgenos, a equipe expôs camundongos à substância química papaína, que causa sensação de coceira. O resultado foi que os animais que não tinham células GD3 (um tipo de célula T) não se coçavam.
Para entender como essas células conduziam as respostas nervosas, os cientistas as cultivaram em laboratório e trataram com um produto químico para que liberassem as moléculas de sinalização citocinas. Então, injetaram o líquido com citocinas nos camundongos.
O tratamento não ocasionou coceira, mas intensificou as respostas dos camundongos a alérgenos como cuspe de mosquito. Ao comparar as substâncias químicas secretadas pelas células GD3 com as de outras células imunes na camada central da pele, eles descobriram que a interleucina 3 (IL-3) – uma citocina -, conhecida por ajudar a regular a inflamação, era o único fator exclusivo das GD3.
Nem todos os neurônios sensoriais responderam à IL-3, mas os que responderam ficaram mais propensos a desencadear coceira. Enquanto isso, removendo os genes para IL-3 ou seus receptores, ou as células GD3 inteiramente, os camundongos não iniciaram resposta alérgica.
Experimentos posteriores concluíram que a IL-3 ativa dois sinais separados. Um deles promove a coceira induzida pelos nervos e o outro controla o lado imunológico da resposta alérgica.
Embora a pesquisa tenha sido feita apenas em camundongos, Sokol acredita que a reação em cadeia envolvendo IL-3 que pode explicar porque picadas coçam em algumas pessoas. “[A pesquisa] pode nos dar um novo caminho para tratar pacientes com distúrbios crônicos de coceira”. Sobretudo porque as células imunes de camundongos no estudo têm genes e proteínas muito semelhantes aos seus equivalentes humanos.