Um teste feito na Flórida pode abrir caminho para “despoluir” as águas dos oceanos e retirar mais dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. A técnica se chama “calagem oceânica”, e foi apresentada em dezembro por pesquisadores da Universidade de Notre Dame, dos EUA.
Em maio de 2022, a equipe de cientistas injetou cerca de 2 mil litros de água do mar enriquecida com cal – pó alcalino derivado do calcário – na Baía de Apalachicola.
Esse “aprimoramento alcalino” visava redefinir a química da água. Isso porque os oceanos já absorvem naturalmente 30% das emissões anuais de carbono. Conforme o CO2 dissolvido reage na água, ele cria bicarbonato e íons de hidrogênio. Quando em excesso, esses íons diminuem o pH da água, o que prejudica a vida marinha e a absorção de CO2 diminui.
A escolha da baía não foi ocasional: ali estão quase 10% das ostras dos EUA. Mas, nos últimos anos, as águas de Apalachicola começaram a aquecer, o que aumentou os níveis de dióxido de carbono e, por consequência, sua acidez. Em 2020, o governo local proibiu a coleta de ostras por cinco anos.
Durante os testes, os pesquisadores descobriram que os níveis de pH da água não aumentam drasticamente após a entrada da mistura com cal. Esse era um dos riscos do experimento – havia receio de que a entrada repentina de cal pudesse prejudicar a vida marinha em vez de ajudá-la.
Funcionaria em todos os oceanos?
O mais provável é que o uso dessa técnica seja “improvável” como uma solução global, disseram os cientistas. O motivo: é difícil produzir cal sem emitir muito CO2 – o inimigo número um das mudanças climáticas.
O aquecimento do calcário para fazer cal libera tanto gás que quase não compensaria o aumento da absorção dos oceanos. Mesmo se não emitisse quase nada, é muito provável que encarecesse no despejo em todo o oceano.
Mas, por outro lado, é muito mais fácil aumentar a caiagem oceânica que aderir à liberação de partículas que refletem luz solar na atmosfera, por exemplo. E a razão é bem simples: o uso do cal é muito mais fácil de controlar do que simplesmente jogar partículas no ar.
“As partículas podem permanecer na estratosfera por meses ou anos. Os aditivos oceânicos tendem a durar apenas um mês antes de serem diluídos e dispersos”, explicou Wade McGillis, engenheiro climatologista e um dos líderes da pesquisa.
Em 2014, o mesmo grupo fez o mesmo experimento visando despoluir os oceanos. Os cientistas só substituíram o cal pelo hidróxido de sódio (soda cáustica) na Grande Barreira de Coral da Austrália.
O resultado foi promissor: os níveis de pH da água ficaram quase iguais aos níveis pré-industriais, o que estimulou a calcificação natural do recife. Neste caso, o cal tem vantagem pois é produzido em maior escala para a indústria cimenteira.