Um dos oceanos do mundo absorve mais calor que os outros – e corre mais risco
Sim, os oceanos também “trabalham” para atrasar os efeitos das mudanças climáticas no mundo. E um, em específico, tem colaborado mais que os outros nos últimos 50 anos: o Oceano Antártico. Isso está aumentando as temperaturas de suas águas frias — e, por tabela, mostrando que o planeta corre grande risco.
O alerta tem base em achados de pesquisadores da Universidade Nova Gales do Sul e Universidade de Sydney, da Austrália, publicados na revista Nature Communications no começo de setembro.
A pesquisa usou um modelo computacional que mede a circulação dos oceanos a nível global para avaliar o desenvolvimento do aquecimento oceânico nos últimos 50 anos.
O resultado mostrou que os oceanos absorveram quase 40% das emissões de dióxido de carbono e mais de 90% do excesso de calor retido na atmosfera desde 1960. Mas foi o Oceano Antártico que dominou a absorção global de calor, mesmo cobrindo só cerca de 15% da área total da superfície oceânica global.
“De fato, o Oceano Antártico sozinho poderia responder por praticamente toda a absorção global de calor dos oceanos”, diz a pesquisa. Já as bacias do Pacífico e Atlântico, por exemplo, quase não retém calor e devolvem o aquecimento para a atmosfera.
Como acontece
O diferencial do Oceano Antártico é sua configuração geográfica. No pólo sul quase não há espaços de terra para interromper os fortes ventos a oeste. Isso facilita que massas de água fria subam para a superfície de forma ininterrupta.
Assim, a água fria é empurrada para o norte e absorve grandes quantidades de calor da atmosfera antes que esse calor seja bombeado para o interior do oceano. O processo todo acontece, em sua maioria, na faixa de latitude ao sul da Tasmânia, Nova Zelândia e sul da América Latina.
A combinação dos efeitos do aquecimento global, do vento sobre o Oceano Antártico e os índices climáticos de 1960 podem explicar quase toda a absorção global de calor oceânico.
Isso não quer dizer que os demais não estão aquecendo, mas sim que o calor que ganham localmente da atmosfera não explica, por si só, o aumento do calor interoceânico. No caso do Oceano Antártico, a absorção maciça de calor é o que impulsionou as mudanças no calor do fundo do mar ao longo dos últimos 50 anos.
Quais são os riscos
O aquecimento das águas do Oceano Atlântico podem trazer impactos irreversíveis para o planeta – e a existência humana. Isso porque leva milênios para que o calor preso no fundo dos oceanos seja liberado e volte para a atmosfera.
Na prática, as mudanças climáticas que já estão acontecendo só serão sentidas pelas próximas gerações. “E essas mudanças só devem piorar, a menos que possamos interromper e zerar as emissões de dióxido de carbono”, diz a pesquisa.
Até lá, o Oceano Antártico faz um “favor” para o mundo: ele amortece os piores impactos das mudanças climáticas. Mas há um custo: o nível do mar sobe uma vez que o calor faz com que a água se expanda e derreta o gelo nos pólos.
Além disso, os ecossistemas já enfrentam um estresse térmico sem precedentes enquanto a frequência e intensidade dos eventos climáticos aumentam.
Um exemplo do impacto ecológico é a espécie krill, um invertebrado que vive no fundo das águas do Oceano Antártico. Quando o aquecimento ocorre além das temperaturas que esse animal pode tolerar, ele se contrai e vai ainda mais para o sul, onde há águas mais frias.
Só que o krill é um componente-chave da cadeia alimentar. Sua mudança deve transformar a distribuição e população de predadores maiores, além de aumentar o estresse para pinguins e baleias, que já estão ameaçados.