“Se sujar não faz bem”: sujeira não beneficia nosso sistema imunológico

A "hipótese da higiene", que diz que a exposição à sujeira e aos germes fortalece nosso sistema imunológico, pode ser exagerada.
Imagem: Harry Trump (Getty Images)

Pesquisadores do Reino Unido dizem que manter-se limpo não é ruim para o sistema imunológico como às vezes se acredita, principalmente quando somos crianças. Em um novo artigo, eles argumentam que as alegações sobre a chamada hipótese da higiene são exageradas, e as pessoas se beneficiam mais ao manter o ambiente doméstico livre de germes. No entanto, precisamos de contato regular com alguns micróbios da natureza.

Essa ideia foi apresentada pela primeira vez pelo epidemiologista David Strachan, na década de 1980. Ele argumenta que a falta de exposição a micróbios na primeira infância pode ajudar a causar certas doenças relacionadas ao sistema imunológico, como alergias. A teoria diz que precisamos desses encontros iniciais com bactérias, vírus e outros micróbios e, quando isso não acontece o suficiente, nos tonamos mais sensíveis com o pólen ou outros gatilhos alérgicos.

Estudos mostraram que crianças que vivem em ambientes “mais sujos”, como fazendas ou em torno de muitos animais, tendem a desenvolver alergias em uma taxa menor do que grupos semelhantes de crianças que vivem em ambientes mais estéreis. Outra pesquisa já sugeriu que tipos específicos de infecções, como as causadas por vermes parasitas, estão igualmente associados a um menor risco de asma.

Em contrapartida, pesquisadores da University College London e da London School of Hygiene & Tropical Medicine afirmam que a ligação entre higiene infantil e o risco de desenvolver problemas imunológicos é mais complicada do que essa concepção popular.

Em seu artigo, publicado no Journal of Allergy and Clinical Immunology, eles apontam que as boas práticas de higiene não devem ser deixadas de lado para maximizar a exposição aos micróbios. “A exposição a microrganismos no início da vida é essencial para a ‘educação’ dos sistemas imunológico e metabólico”, disse o autor principal Graham Rook, em comunicado. “Contudo, por mais de 20 anos, houve uma narrativa pública de que as práticas de higiene doméstica e das mãos, essenciais para interromper a exposição a patógenos causadores de doenças, também estão bloqueando a exposição aos organismos benéficos”, completou.

Rook e o co-autor da pesquisa apontam evidências que mostram que as tais bactérias boas são comumente apresentadas às pessoas desde cedo, por meio de suas mães e outros membros da família, bem como no ambiente natural. Por outro lado, há poucas evidências que afirmam que muitos micróbios encontrados em uma casa moderna típica são importantes para o desenvolvimento de um sistema imunológico saudável. Existem também muitos germes nocivos que podem ser impedidos de causar doenças por etapas simples, como lavar as mãos. Além disso, a pesquisa mostrou que as vacinas criam as próprias respostas imunológicas, treinando o corpo da mesma forma que as infecções.

Dito isso, a higiene excessiva pode realmente ser ruim para as crianças, mas de uma maneira diferente do que comumente se pensa. Os cientistas citam pesquisas que comprovam que a maior exposição a produtos químicos encontrados em muitos produtos de limpeza pode desencadear o tipo de disfunção imunológica que leva a alergias e asma.

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Os autores sugerem que não há necessidade de limpar cada centímetro de nossas casas com frequência, nem precisamos de “túneis de desinfecção” em espaços públicos que se tornaram populares em alguns países durante a pandemia. Porém, é preciso lavar as mãos antes de comer, após ir ao banheiro e algumas vezes durante o dia. “Portanto, limpar a casa é bom e a limpeza pessoal é boa, mas, conforme explicado com alguns detalhes, para evitar a propagação da infecção, ela precisa ser direcionada às mãos e superfícies mais frequentemente envolvidas na transmissão da infecção”, concluiu Rook.

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