Um novo grande estudo populacional procura esclarecer a conexão teorizada entre tintura de cabelo e câncer. O estudo não encontrou nenhuma ligação entre o uso de tintura de cabelo e um risco maior da maioria dos tipos de câncer em mulher. No entanto, ele encontrou uma possível relação entre tintura de cabelo e certas formas de câncer de mama, câncer de ovário e o tipo mais comum de câncer de pele — todas essas ligações “justificam uma investigação mais aprofundada”.
O estudo, publicado no BMJ na última semana, analisou dados de outro projeto de pesquisa, chamado Nurse’s Health Study. Esse estudo acompanhou a saúde e os hábitos de vida dos voluntários desde 1976, com questionários enviados e devolvidos a cada dois ou quatro anos. Mais de 120 mil mulheres com idades entre 30 anos e 55 anos dos EUA fizeram parte do levantamento.
Os pesquisadores deste estudo analisaram 117.200 mulheres que detalharam se já haviam ou não usado tintura de cabelo permanente e foram informadas como livres de câncer no início do projeto. Em média, as mulheres foram acompanhadas por 36 anos, e um terço relatou o uso de tintura de cabelo em algum momento de suas vidas. Durante esse tempo, houve mais de 47 mil casos auto-relatados de câncer entre as mulheres, junto com mais de 4.800 mortes.
O estudo não encontrou nenhuma associação significativa entre uma maior chance da maioria dos cânceres e o uso de tintura de cabelo, independentemente de quanto tempo ou frequência as mulheres usaram tintura de cabelo. Ele também não encontrou nenhuma ligação entre um maior risco de morrer de câncer e o uso de tintura de cabelo.
Em comparação com quem não usou tintura de cabelo, no entanto, as mulheres que já usaram tintura de cabelo parecem ter um risco maior de desenvolver câncer de mama com receptor hormonal negativo, uma forma de câncer de mama que tende a crescer mais rápido, afeta mulheres mais jovens e não responde a tratamentos que bloqueiam ou reduzem os hormônios estrogênio e progesterona. Eles também tinham um risco associado maior de câncer de ovário e carcinoma basocelular, a forma mais comum, mas muito tratável de câncer de pele.
Os resultados deste novo estudo concordam com outras pesquisas que não mostram nenhuma ligação entre a tintura de cabelo e muitos tipos de câncer, incluindo um estudo de 1994 usando o mesmo grupo de mulheres que descartou uma relação da tintura de cabelo com leucemia e cânceres sanguíneos relacionados. Mas também se alinha com pesquisas recentes que associam o câncer de mama, especificamente, ao uso de tintura de cabelo. Isso inclui um estudo liderado pelo governo dos EUA em dezembro de 2019 que encontrou essa relação, que foi ainda maior para mulheres negras em particular.
“Este estudo de coorte prospectivo entre mulheres americanas, em sua maioria brancas, oferece algumas garantias contras as preocupações de que o uso pessoal de tinturas de cabelo permanentes pode estar associado a um risco aumentado de câncer ou mortalidade”, escreveram os autores. “No entanto, encontramos uma associação positiva para o risco de alguns tipos de câncer”.
O risco de câncer geralmente é uma coisa bem difícil de estudar e determinar. Existem cerca de 5.000 produtos químicos encontrados em produtos de tintura de cabelo e alguns são conhecidos por serem cancerígenos por si só. Mas o risco de qualquer coisa causar câncer pode ser afetado por uma série de fatores, incluindo a genética de uma pessoa, o ambiente e a força de exposição a ele. Outra questão sem resposta é quanto risco adicional de tintura de cabelo pode vir, supondo que exista.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) descobriu que a exposição ocupacional a tintura de cabelo enfrentada por pessoas que trabalham o dia todo em salões de beleza e locais semelhantes, por exemplo, é um provável carcinógeno humano. O uso pessoal de tintura de cabelo, no entanto, é atualmente considerado o que a OMS chama de “agente de grupo 3”, o que significa que não há evidências suficientes para classificar seu risco de câncer em caso positivo ou negativo no momento.
Esses tipos de estudos por si só não podem provar ou refutar diretamente uma ligação causal ao câncer. Mas eles dão aos cientistas uma direção mais clara para se concentrar, como os cânceres que podem ter sido associados ao uso de tintura de cabelo no estudo. É importante, observam os autores, que estudos futuros devam olhar para grupos mais diversos de mulheres e olhar para fora dos EUA, bem como levar em consideração o tipo de corante que estavam usando, algo que não foi possível neste estudo. As tinturas de cabelo mais escuras são uma preocupação especial para o estudo, observaram os autores, uma vez que tendem a conter mais produtos químicos do que os mais leves.
A Sociedade Americana de Câncer, discutindo as pesquissa sobre tintura de cabelo e câncer existentes, resume bem as coisas:
“Não está claro o quanto o uso de tintura de cabelo pessoal pode aumentar o risco de câncer, se é que aumenta. A maioria dos estudos feitos até agora não encontrou uma ligação forte, mas são necessários mais estudos para ajudar a esclarecer esta questão”.